Autarca de Abrantes expectante com Barragem do Alvito numa "fase de valorização do rio Tejo". Foto arquivo: CMA

“Uma notícia estrondosa” sobre o anúncio do projeto de construção de “uma barragem construída essencialmente com fins ambientais”, foi assim que Manuel Jorge Valamatos, presidente da Câmara de Abrantes, se referiu à apresentação pública feita pelo Ministério do Ambiente e da Ação Climática.

“O Tejo tem um património e presença muito relevante no concelho de Abrantes e em toda a região e deve-se afirmar no próprio país, até porque continua a ser uma autoestrada muito importante, hoje virada mais para o turismo e para o lazer, e ambiciona áreas diferentes de outras que teve durante muitos anos (…) e nós lutaremos sempre por um Tejo melhor, um Tejo vivo”, declarou Valamatos à comunicação social.

Para o autarca socialista, a Barragem do Alvito será “uma barragem capaz, de ponto de vista ambiental, de alimentar o rio sempre que haja necessidade de regularização dos caudais, questão determinante para a qualidade do rio”, ainda que tenha feito notar as “melhorias a montante de Abrantes, a nível industrial e nas próprias ETARs”.

Manuel Jorge Valamatos, presidente da Câmara Municipal de Abrantes. Foto: mediotejo.net

“Monitorizamos a qualidade da água e a APA também o faz, temos resultados hoje muito melhores do que há meia dúzia de anos, embora haja alguns dias em que temos dúvidas que não haja prevaricadores e devemos descobrir quem continua a afetar e desproteger um património tão importante do ponto de vista ambiental”, frisou.

Mas é na regularização do caudal do rio que o edil se foca. “Se por um lado as questões da qualidade da água avançaram positivamente, a regularização dos caudais do rio, e tem de ter um caudal mais regular para que tenha um comportamento favorável ao ecossistema e às espécies piscícolas”, indicou.

Fazendo menção aos últimos anos de alteração do comportamento e forma do rio Tejo, também em função das alterações climáticas, Manuel Jorge Valamatos lembrou que se passou “um tempo muito difícil particularmente com a qualidade da água”, mas voltando a centrar-se na questão dos caudais.

“A regularização dos caudais ecológicos é uma matéria de grande sensibilidade (…) foi apresentada uma solução que nos parece muito interessante, obviamente que carece de sustentabilidade técnica e financeira. Quanto à Barragem do Alvito, estamos muito expectantes relativamente a próximas etapas, mas que há partida nos parece de grande relevância porque se trata de uma barragem fundamentalmente de linguagem ambiental e isto muda muito a interpretação que fazemos sobre estas matérias”, afirmou.

Foto: CMA

O autarca refere-se a “uma barragem que visa ter a capacidade de injetar no rio Tejo quantidade de água bastante para que se mantenham caudais mais regulares, isto deixa-nos extremamente interessados e é algo de relevância para todo o nosso território. Vamos continuar a acompanhar o processo”, assumiu.

Na sessão, indicou o edil, houve abordagem a outros projetos no rio Tejo, inclusive sobre o açude insuflável de Abrantes. Manuel Jorge Valamatos lembrou um estudo que tem sido dinamizado em concreto sobre a escada passa-peixe com a Universidade Nova de Lisboa e a Universidade de Évora, e que visa implementar melhorias técnicas e otimizar aquele equipamento.

“Queremos otimizar este açude, olhamos para a possibilidade de instalação de uma mini-hídrica ao mesmo tempo que podemos fazer a valorização e melhoria da escada passa-peixe”, notou.

Outro tema desta sessão com o Governo, passou pela ApR (Água para Reutilização), isto é, “a reutilização de águas residuais recuperadas para funções hídricas, para as regas, para as lavagens para a agricultura e outros fins”, situação a que a autarquia, bem como os SMA, estão sensíveis e atentos.

“Hoje as questões climáticas hoje obrigam-nos à otimização dos recursos hídricos, e são debitados para o rio e para o mar, milhões de litros de água resultante das ETARs, e essa água deve ter esta função de poder ser injetada no ciclo da água”, explicou Valamatos.

Açude Insuflável no rio Tejo, em Abrantes. Foto: mediotejo.net

“Precisamos valorizar o açude, e otimizar, porque ali passa a água das barragens a montante, e podemos reaproveitar essa água para produção de energia no açude. E em simultâneo podermos encontrar uma estratégia simultânea para melhoria da escada passa-peixe. Julgo que estamos numa fase de valorização do Tejo”, frisou, falando na possibilidade de ter acesso a programas de financiamento específicos ou meesmo fundos comunitários disponíveis para o efeito.

Relativamente ao aproveitamento das águas residuais, no conceito de Água para Reutilização, o presidente de Câmara relevou que a Abrantáqua, entidade gestora da rede de saneamento e águas residuais no concelho de Abrantes, “há muito que tem um projeto de implementação de uma estrutura capaz de reaproveitar as águas residuais para a agricultura, rega, para outros fins que não o consumo humano”, disse, acrescentando ser um “trabalho urgente” e que o reaproveitamento das águas residuais “é um destino inevitável”.

“O ano passado foi um ano de stress hídrico enorme, e temos de estar preparados para um futuro em que podemos voltar a ter episódios de escassez de água, e o aproveitamento das águas residuais vai mitigar alguns efeitos e equilibrar a necessidade da água para consumo humano”, reconheceu.

A Abrantáqua “tem um projeto na Estação da Fonte Quente para recuperação das águas residuais, que será reaproveitada para sistemas de rega, lavagem de estradas, para a agricultura”, adiantou, referindo que se trata de “projetos a curto prazo e o SMA estará atento aos programas de financiamento europeus, até para recuperação das redes de água domiciliária (redes em baixa) e na rede em alta”.

Ainda que na rede em baixa existam “muitas perdas”, e que haja investimento que é necessário fazer, tendo como premissa que “a água é um recurso valioso”.

Foto: arquivo/CMA

Recorde-se que o Ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, afirmou que a construção da barragem do Alvito e a reutilização de águas tratadas para a agricultura são duas soluções importantes para o reforço da resiliência hidrográfica do Tejo, tendo estes assuntos estado em cima da mesa numa sessão pública de apresentação das soluções para o reforço da resiliência hídrica do Tejo, que decorreu em Proença-a-Nova no dia 7 de março.

O Ministro referiu a Barragem do Alvito – até pelo seu posicionamento geográfico – é «bastante importante», bem como «a reutilização das águas tratadas para serem aproveitadas para a rega».

O Ministro disse ainda que estes são projetos de alguma dimensão que exigem agora que o território se pronuncie, designadamente, as Comunidades Intermunicipais (CIM) e os municípios.

“Queremos tomar decisões muito em breve. A decisão já tomada é a passagem da barragem do Cabril para fins múltiplos, o que permite não só aumentar o caudal quando necessitamos, como reservar água quando podemos. Essa decisão está tomada e corresponde a uma expectativa do território”, concluiu.

Em análise e discussão pelas CIM e pelos municípios estão a construção de uma nova barragem, do Alvito, no rio Ocreza, e um túnel que ligue o rio Zêzere ao Tejo, tendo como objetivo o reforço do caudal ecológico do Tejo, mais a norte.

A possibilidade de criar uma infraestrutura para trazer as águas tratadas da Área Metropolitana de Lisboa, para reutilização para a Lezíria do Tejo, respondendo às necessidades de rega do território, é outro dos pontos em discussão, pode ler-se na informação divulgada no site do Governo.

Perante o anunciado nesta sessão pública e as declarações do governante, o Movimento proTEJO disse não se rever nas soluções apresentadas pelo ministro do Ambiente para o rio Tejo, como a construção da barragem do Alvito (no rio Ocreza), e um túnel que ligue o rio Zêzere ao Tejo, tendo reiterado a necessidade de implementar “caudais ecológicos instantâneos” previstos na Convenção de Albufeira.

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Joana Rita Santos

Formada em Jornalismo, faz da vida uma compilação de pequenos prazeres, onde não falta a escrita, a leitura, a fotografia, a música. Viciada no verbo Ir, nada supera o gozo de partir à descoberta das terras, das gentes, dos trilhos e da natureza... também por isto continua a crer no jornalismo de proximidade. Já esteve mais longe de forrar as paredes de casa com estantes de livros. Não troca a paz da consciência tranquila e a gargalhada dos seus por nada deste mundo.

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