Foi perante um auditório repleto de populares que António José Carvalho, eleito pelo Movimento Independente Freguesia Tramagal (MIFT) tomou posse como presidente da Junta de Freguesia, tendo elencado alguns dos objetivos do seu mandato e reafirmado no seu discurso a ambição de “voltar a colocar o Tramagal no mapa” a partir do potencial existente.
Na sequência das eleições autárquicas realizadas a 26 de setembro, a instalação da nova Assembleia de Freguesia de Tramagal decorreu no dia 8 de outubro, tendo os resultados dado uma vitória ao MIFT por 43.53% contra 42.56% do PS, uma eleição muito disputada com resultados separados por 16 votos, e com Pedro Rodrigues, cabeça de lista do PS e agora principal rosto da oposição, a fazer uma leitura do ato eleitoral e dos acontecimentos decorrentes, durante o uso da palavra, num contexto em que a vitória do MIFT terminou com um ciclo de 24 anos consecutivos de liderança socialista em Tramagal.
Com a vitória na noite eleitoral, o MIFT, liderado por António José Carvalho conquistou cinco mandatos enquanto a lista do PS, encabeçada por Pedro Rodrigues, conseguiu quatro eleitos.

Para o executivo, o presidente António José Carvalho conta com Susana Estriga como secretária e Atílio Picão como tesoureiro. Na votação, o MIFT contou com cinco votos favoráveis da sua bancada e quatro abstenções do PS.

Para a Assembleia Municipal, a lista proposta pelo MIFT elegeu Susana Peixinho como presidente, Rui Antunes como 1º secretário e Sandra Silva como 2º secretário. A votação decorreu nos mesmos moldes, com cinco votos favoráveis do MIFT e quatro abstenções do PS.

O MIFT conta com 5 eleitos na Assembleia de Freguesia (Paulo Velho, José Garcia, Rui Antunes Sandra Silva e Susana Peixinho) contra quatro do PS (Pedro Rodrigues, José Carlos Catarino, Sandra da Silva e Franquelim Lopes.

OS DISCURSOS, MENSAGENS DO MIFT E PS:
Na sessão de tomada de posse, discursaram os cabeças de lista e candidatos mais votados, sendo de lembrar que CDU, PSD e BE não elegeram qualquer representante. O primeiro a usar da palavra foi Pedro Rodrigues, o candidato do PS e que é o líder da bancada da oposição, discurso que transcrevemos na íntegra, depois das saudações iniciais:

ÁUDIO | PEDRO RODRIGUES, CANDIDATO PS À JF TRAMAGAL:
“Conhecer publicamente que Tramagal não estagnou. Pelo contrário, no meio das crises que se abateram no país e o mundo, Tramagal resistiu ao nível da economia, da educação, do associativismo, ao nível social e cultural, com o apoio da junta de freguesia, mantendo-se firme em vários domínios, levando mais longe o nome do Tramagal.
Tramagal está e continua no mapa. Aceitei o convite do Partido Socialista para encabeçar a lista do PS à freguesia do Tramagal consciente das dificuldades que teria nestas eleições. Em 2017 a vitória do PS por 61 votos fazia antever que decorridos quatro anos dos últimos 12 de governação PS, o desgaste e insatisfação eram crescentes. Por uma equipa, nunca abdicando de em consciência falar a verdade, reconhecendo falhas e dificuldades, mas aplaudindo também o que de bom se tem feito. Não entrar no jogo da demagogia e populismo que, com vista ao voto fácil, entrou na nossa freguesia. Não fazer promessas que conscientemente sabia não puder cumprir.
Ao contrário de outros, na primeira linha de visão tive sempre o Tramagal e os seus fregueses, todos, sem exceção. Ao longo da campanha deparámo-nos com situações, vindas de vários quadrantes, que tentamos rebater com verdade e consciência. Não foi fácil mas de uma coisa me orgulho: a sinceridade, elevação e educação com que fizemos esta campanha eleitoral. Apresentámos um programa eleitoral consciente das atribuições e competências de uma junta de freguesia, tendo sempre em consideração que existem leis inultrapassáveis, orçamentos para cumprir, e que não basta querer ou sonhar. Nada pode ser feito pela Junta de Freguesia sem enquadramento legal.
No dia 26 de setembro fomos escrutinados, e mais uma vez, ao contrário de outros, aceitamos sem insinuações o resultado da contagem de votos. Recordamos tristemente que os resultados do sufrágio transato fizeram os atuais eleitos criar uma distinção clara entre os eleitores do Tramagal e do Crucifixo, ao insinuarem que os votos dos primeiros contavam mais do que os votos dos segundos. Perdemos por 16 votos, mas podia ter sido por 1, aceitaríamos da mesma forma, é assim a democracia, cada voto vale de igual modo, e sabemos perder. Na verdade, a equipa por mim encabeçada nunca foi alvo de críticas diretas, e apesar de qualquer das candidaturas apresentadas significar mudança na junta de freguesia, o nosso projeto não saiu vencedor, embora tenha sido votado por muitos fregueses, 701, aos quais agradecemos a confiança em nós depositada.
Congratulamo-nos pela eleição incontornável do Partido Socialista à Câmara de Abrantes, que venceu no Tramagal com quase 60% dos votos, afinal, em abono da verdade, o Tramagal continua a confiar maioritariamente no PS, o que só pode significar que o trabalho foi reconhecido. O Partido Socialista elegeu dois tramagalenses, António Veiga e Sérgio Lopes, para a Assembleia Municipal e uma, Helena Raquel Olhicas, para o executivo camarário e, por isso, os congratulamos. Elegemos 4 elementos para a assembleia de freguesia e começámos já a trabalhar. Somos oposição mas queremos marcar a diferença, queremos ser uma oposição séria, atenta e vigilante, construtiva, desprovida de demagogia e contribuindo para o desenvolvimento sustentado e sustentável da freguesia de Tramagal.
Termino felicitando o executivo eleito, desejando que consiga colocar de lado eleitoralismos e acima de tudo o resto, que faça um bom trabalho em prol de todos os tramagalenses. Viva a democracia e viva o Tramagal”, concluiu.

Um discurso incisivo, claro e direto que recebeu muitos aplausos do público presente, situação que se viria a repetir, aliás, com a intervenção de António José Carvalho, com os populares presentes no auditório a mostrarem o seu apoio aos seus candidatos nas eleições.

ÁUDIO | ANTÓNIO JOSÉ CARVALHO (MIFT), PRESIDENTE DA JF TRAMAGAL:
“Saudar a nova assembleia, desejar um bom trabalho a todos, agradecer também à assembleia cessante e à junta cessante o trabalho desenvolvido de anos, aqui na freguesia.
O Movimento Independente da Freguesia de Tramagal apresentou-se a estas eleições com uma ideia e uma intenção de fazer avançar o Tramagal para o lugar que achamos que deve ter a vila e a aldeia do Crucifixo, com lugares de importância regional e nacional, quer pela sua história e potencial económico, pelas pessoas que aqui vivem e pelo trabalho que realizam, e que achamos que precisa de ser mais reconhecido e apoiado, nomeadamente pela gestão pública, quer pela autarquia, quer pelo poder central, quer pelos diversos órgãos e instituições públicas que têm responsabilidades também no nosso território.
Assumimos este projeto com realismo, responsabilidade e compromisso, perante os eleitores, de tudo fazer para cumprir o nosso programa, e precisamos da boa vontade de todos e todas, das empresas, associações e todas as instituições, para fazer avançar as nossas localidades para esse patamar que nós desejamos.
Resumimos o nosso programa: nós queremos uma freguesia mais ecológica, que esteja na linha da frente na defesa do ambiente, como é próprio de lugares europeus, vamos querer de facto melhorar bastante esse aspeto, dando muita atenção ao rio Tejo, dando muita atenção às situações que estão menos bem a nível dos resíduos ou saneamento básico e, portanto, queremos daqui por quatro anos estar muito à frente como referência de território com boa ecologia.
Também na mesma linha, dissemos que queríamos uma freguesia mais digital, modernizada, em geral, desde logo os próprios serviços na Junta de Freguesia, mas também o ambiente que existe na freguesia, mas também que o ambiente que existe seja um ambiente moderno que já se deseja em todos os lugares, com tecnologias fáceis, boas redes, com bons serviços a nível das comunicações, e portanto nós aqui queremos avançar também, e temos esse propósito, de tudo fazer para em conjunto, com as demais entidades, apresentando propostas, procurando compromissos em torno de projetos concretos, para que se avance neste aspeto.
Também uma freguesia mais resiliente, uma palavra que também está muito na moda, que resiste bem às crises, como resistimos, como queremos continuar a resistir, mas precisamos de facto de apoios para que, em termos sociais e económicos, toda a vida na nossa freguesia seja mais favorável e confortável para todos, lembrando aqui especialmente a população mais idosa, que é uma parte muito importante da nossa população, mas também temos os jovens que têm anseios, vontade de desenvolver projetos e de trabalhar e levar a nossa terra para a frente, portanto temos de trabalhar muito este aspeto, de fortificar a economia e sociedade na nossa freguesia.
Tudo isto nós iremos fazer com o máximo de responsabilidade e assumimos todos os compromissos necessários como aquele que assumimos com os eleitores que confiaram e nos deram a maioria para gerir os próximos quatro anos.
Resta-me saudar todos, agradecer, e dizer que estamos aqui todos para ajudar toda a população a concretizar os seus projetos, a ser feliz, a sermos uma freguesia mais alegre, e esse é o nosso empenho e compromisso. Ajudem-nos também naquilo que for possível, pois só com a ajuda de todos é que nós conseguiremos, de facto, levar o nosso Tramagal, o nosso Crucifixo, a nossa freguesia, e mesmo a nossa região, para outro patamar que todos desejamos”, concluiu.
No final da sessão, o mediotejo.net colocou algumas questões diretas ao novo presidente da Junta de Freguesia de Tramagal sobre objetivos e objetivos a curto e médio prazo.

ÁUDIO | ANTÓNIO JOSÉ CARVALHO, PRESIDENTE JF TRAMAGAL:
Acaba de tomar posse como presidente da junta para os próximos 4 anos. E agora?
Agora são 4 anos de muito trabalho, empenho total, de toda a nossa equipa e de toda a gente, esperemos, para fazer avançar as nossas terras. Não paramos de trabalhar, o MIFT já há mais de 4 anos que trabalha para fazer avançar a nossa freguesia como é nosso desejo, e é isso que vamos ter de fazer, resolver problemas e projetar um futuro melhor. Nós conhecemos bem as problemáticas que nos afetam, temos uma estratégia para as resolver, esta estratégia tem um eixo fundamental que é muito trabalho, muita intensidade, exigência para nós próprios e todas as entidades públicas, no sentido de resolver os problemas e avançar os projetos.
Há uma expectativa que ficou aqui evidente… é preciso, além do esforço de quem foi eleito, um esforço e envolvência por parte da comunidade, com um resultado tão equilibrado nas eleições é possível e desejável que não haja divisões?
Vamos ver, compreendemos bem e fazemos uma distinção muito clara sobre aquilo que é a luta eleitoral e o debate maduro, e estas eleições foram exemplo disso. De uma democracia madura, que já tem freguesias há 40 anos, que tem formas de funcionar que funcionam, e entendemos assim a luta eleitoral e o resultado eleitoral também. Se analisarmos bem, a nível dos projetos e ideias apresentadas, as diferenças não são tão substanciais como são depois discutidas na procura dos votos, e é em torno daquilo que é comum que iremos logo trabalhar, e isto também pensando que o tempo vai esbater alguma tensão do tempo das eleições e que nos vai projetar para um tempo de tranquilidade e concentração naquilo que importa.
Falou na envolvência popular… vai manter a descentralização das assembleias de freguesia?
Sim, um dos compromissos que assumimos foi abrir a junta de freguesia à população, tornar a tão falada proximidade, efetiva. Estamos próximos da população, vamos alargar a possibilidade de atendimento, ao nível do funcionamento de assembleia, iremos manter pelo menos a regularidade da descentralização de pelo menos uma assembleia de freguesia anual para a localidade do Crucifixo, mas a par disso contamos também para tão breve possível, se possível já para a próxima assembleia, estarmos a trabalhar com transmissão em direto através das redes sociais, e possibilitar canais de comunicação fáceis entre a população e a junta e a própria assembleia.
Primeira medida a tomar?
Vou ser franco, há tantas urgências, que amanhã mesmo a Junta de Freguesia vai estabelecer todo o seu plano de trabalho de forma mais oficial, mas entre elas há medidas que vamos de imediato fazer. Requerer uma reunião com a unidade de saúde familiar para percebermos bem o que se está a passar com o nosso centro de saúde, porque estamos a sentir que ele está a ficar em segundo plano em relação à sede, com a ausência de médicos com alguma regularidade, e isso temos de esclarecer, e apresentar os nossos argumentos, porque na unidade de saúde familiar [USF Beira Tejo em Rossio] a freguesia do Tramagal é aquela que tem maior número de utentes e portanto não faz sentido que não tenho o máximo do serviço implantado.
Essa é uma das primeiras coisas a fazer, assim como, assim que seja possível, estabelecer contactos com a Câmara Municipal de Abrantes com a iniciativa de resolvermos os problemas que existem e que são óbvios e que precisam de solução naquilo que depende da Câmara Municipal ou dos serviços municipais. Esses contactos têm de ser imediatos, e também no sentido de prepararmos já o próximo orçamento que está para breve e que precisa de levar já todos os contratos interadministrativos que consideramos essenciais para já no próximo ano termos o nível de investimento que queremos.
Uma última palavra para os tramagalenses nesta hora de arranque de mandato…
É uma palavra de confiança, esperança, temos potencial e força. Nestas eleições demonstrámos que as nossas terras têm muita força, votámos massivamente, muito acima daquilo que foi a média quer do concelho e até a nível nacional, estamos vivos, temos força e vamos todos avançar com confiança. O Tramagal vai estar cada vez mais no mapa e vai ser mesmo uma referência e um exemplo para muitas coisas, é isso que nós queremos”, concluiu.

Concorreram à Assembleia de Freguesia de Tramagal cinco candidaturas nestas eleições de 2021. Além dos referidos MIFT e PS, a CDU conquistou 4,61% do eleitorado, o PSD 3,95% e o BE 2,31%, não conquistando estas candidaturas qualquer mandato.
Desde 1976 que o poder local era exercido pelo PS, com exceção das eleições realizadas em 1985 (venceu o PPD/PSD) e 1989 (venceu o PCP/PEV). Em 2017, o MIFT perdeu as eleições para o PS por 61 votos.
Das 13 freguesias do concelho de Abrantes, 10 voltaram a dar vitória ao PS: Martinchel, Carvalhal, Fontes, Pego, Abrantes e Alferrarede, São Miguel do Rio Torto e Rossio ao Sul do Tejo, Bemposta, Mouriscas, Alvega e Concavada e São Facundo e Vale das Mós. O PSD voltou a conquistar a União de Freguesias de Aldeia do Mato e Souto e os independentes conquistaram, além de Tramagal, a freguesia de Rio de Moinhos.