Tomar assinalou a 1 de março os 862 anos da fundação do Castelo Templário de Tomar por D. Gualdim Pais, mestre dos templários, e com isso chegaram ao expoente máximo as comemorações do Dia da Cidade. O feriado municipal ficou marcado pelo regresso das habituais cerimónias à Praça da República, seguindo depois para a sessão solene da Assembleia Municipal de Tomar, no Cine-Teatro Paraíso, onde foram atribuídas medalhas do Município em jeito de homenagem a personalidades, instituições e empresas com relevância a nível concelhio. Este dia ficou marcado por gestos e palavras de solidariedade para com o povo da Ucrânia, com os discursos dos vários autarcas e representantes dos partidos com assento na Assembleia Municipal a condenarem uma “guerra sem sentido”. Na ocasião, Tomar assumiu estar disponível para acolhimento e apoio aos ucranianos e refugiados deste conflito, num anúncio feito por Anabela Freitas, presidente da Câmara Municipal.
O dia começou agitado na Praça da República e ruas do centro histórico na sua envolvente, prenúncio de que estaria de regresso o formato de comemorações interrompidas pela pandemia de covid-19.
Na presença de diversas forças militares, de segurança, corpo de bombeiros, grupo de escuteiros, representantes de coletividades e demais entidades e instituições concelhias e regionais, os autarcas tomarenses começaram pela tradicional deposição de coroa de flores junto à estátua de Gualdim Pais.

A cerimónia contou com honras militares, parada e desfile coordenado pela praça, hasteadas que estavam as bandeiras pelo executivo municipal e representante do Exército Português, após o Hino Nacional entoado pelos presentes em uníssono com a comunidade que ladeava a praça e assistia e registava com os telemóveis este momento solene, ao qual também se associou a fechar o desfile a Sociedade Filarmónica Gualdim Pais.
A azáfama provava o regresso à normalidade, o retomar de festividades e de convívio, mantendo as distâncias e medidas de proteção individual. A praça voltou a preencher-se como outrora, após uma pausa forçada nos últimos longínquos dois anos.
Seguiu-se depois para o Cine-Teatro Paraíso, onde arrancou a sessão solene da Assembleia Municipal com plateia plena de convidados, entre os quais, personalidades e empresários homenageados este ano com a Medalha do Município de Tomar.
Coube ao presidente da Assembleia Municipal, conduzir os trabalhos, fazendo o discurso de abertura da sessão, numa estreia neste que é o primeiro mandato à frente da mesa do órgão deliberativo tomarense.
Hugo Costa referiu-se à pandemia enquanto “realidade brutal” que alterou por completo a vida em comunidade e que levou ao “isolamento de parte significativa da população” algo que no seu entender deve ser combatido. Mas também sublinhou que foram dois anos de “grande resiliência” das famílias, empresas e instituições, deixando palavra para familiares das vítimas da “maior crise sanitária dos últimos 100 anos” e “todos os que sentiram na pele as consequências económicas e sociais da pandemia”.
ÁUDIO | Discurso de Hugo Costa, presidente da Assembleia Municipal de Tomar
Na segunda parte do discurso, Hugo Costa não deixou passar em claro o confronto entre Rússia e Ucrânia, mostrando-se solidário com o povo que está a ser vítima da guerra.
“Agora que a pandemia começa a dar tréguas, outras nuvens negras estão neste momento a mostrar-se. Uma guerra absolutamente condenável, grotesca, que chega à Europa no ano de 2022. Uma guerra sem sentido, como afinal todas as guerras. E sendo Portugal e o nosso concelho um território de integração e solidariedade, quero deixar uma palavra para todo o povo ucraniano, para as vítimas da guerra e, naturalmente, para a comunidade ucraniana em Tomar. Tomar deve e pode ser um local de acolhimento dos que fogem à crueldade e ganância humana”, afirmou.
Por outro lado, e além “do clima de crise e incerteza”, o presidente da Assembleia Municipal destacou como sendo importante planear o futuro e o presente, com Tomar a precisar aproveitar “um conjunto de oportunidades” com o novo quadro comunitário de apoio e o Plano de Recuperação e Resiliência “para promover o seu desenvolvimento”.
“Os nossos filhos e os nossos netos não nos vão perdoar hesitações, erros e faltas de transparência neste domínio”, frisou.

Também a questão ambiental esteve em foco, nomeadamente o alerta para o impacto da seca no ambiente, turismo e abastecimento humano, defendendo a procura de consenso e a procura de soluções que sirva o interesse de todos. Considerou ainda que devem as entidades e cidadãos tomarenses ser “intransigentes com qualquer fenómeno de poluição das bacias hidrográficas”.
Terminando, reafirmou que “os cidadãos devem estar cada vez mais próximos dos decisores públicos, e que a Assembleia Municipal tem que ouvir de perto quem está no território” e que “a democracia por excelência de cada concelho”.
“Importa continuar a celebrar os valores templários que levaram a erguer o Castelo de Tomar”, terminou, fechando o seu discurso.
Num discurso sentido com o retomar das comemorações do Dia da Cidade e do Concelho de Tomar, a edil Anabela Freitas lembrou o interregno provocado pela pandemia. “Tempos estranhos os que vivemos”, foi assim que começou por se referir às alterações de vivência provocadas nos últimos dois anos devido ao covid-19.
“As marcas deixadas perdurarão no tempo, sejam elas sociais, económicas, comportamentais, mas do meu ponto de vista, as mais impactantes, serão porventura a vida em comunidade e as marcas relacionais”, enumerou.
VÍDEO | Discurso de Anabela Freitas, presidente da Câmara Municipal de Tomar
Começou por frisar que “não podemos ficar indiferentes às nossas crianças e jovens que estão na idade própria de socializar, e se viram privados de serem crianças, de serem jovens. Não podemos, pois, ficar indiferentes às consequências desta privação”.
Ainda assim, a autarca nabantina não deixou de fora o atual contexto europeu de conflito entre a Rússia e a Ucrânia, recordando anteriores discursos proferidos naquela mesma ocasião, em outros anos.
“Tempos estranhos os que vivemos. Pois precisamente, enquanto comemoramos os 862 anos da construção do Castelo Templário, estamos a assistir a uma batalha, no século XXI, com componente bélica e de conquista de territórios. No continente que todos tínhamos como um continente de paz. É certo que num mundo em convulsão, num mundo em constantes mudanças, outras batalhas se têm travado, tendo como único objetivo o poder. Mas sempre como consequência o desrespeito pela dignidade humana”, afirmou.

Aludindo aos campos de refugiados na Europa, para pessoas que “apenas procuram viver em paz e com dignidade”. A socialista mencionou ainda que esses campos são “pagos por outros países europeus”, estando por isso “longe da vista, longe do coração”.
Recordando a mobilização e organização em torno das respostas sociais que se tornaram necessárias em torno da pandemia em Tomar, disse que todos têm a obrigação “de continuar a cuidar e estar atentos às consequências deixadas na comunidade”.
“Da mesma maneira que cuidámos dos mais vulneráveis durante a pandemia, devemos cuidar dos mais vulneráveis, vítimas do conflito da Ucrânia. Nesse sentido, o Município de Tomar formalizou junto do Governo a disponibilidade de acolher no nosso concelho refugiados oriundos da Ucrânia. Sim, são tempos estranhos os que vivemos. Mas são também tempos em que está na nossa mão trazer ao de cima o melhor de cada um de nós, de cuidar dos outros, sejam os nossos vizinhos, ou quem está longe”, reiterou.
Anabela Freitas defendeu que está na altura de fazer sobressair no léxico palavras como tolerância, dignidade e humanismo. “Vivam os tomarenses, enquanto um povo humanista!”, concluiu a edil.
Da parte dos deputados da Assembleia Municipal, representantes dos partidos políticos com assento naquela órgão autárquico, desde os Independentes do Nordeste, ao CDS-PP, ao PSD, ao CHEGA, ao Bloco de Esquerda, à CDU e ao Partido Socialista, os discursos foram ao encontro deste gesto solidário para com o povo ucraniano.
Mas como o dia se referia a Tomar, cidade e concelho, houve tempo para enaltecer as qualidades, a história e a tradição tomarenses.
Tomaram também lugar algumas abordagens ao rumo que o concelho tem seguido nos últimos anos, com críticas endereçadas pela oposição à sua governação e alertas para a necessidade de tomada de medidas e políticas que invertam fenómenos como a desertificação e o envelhecimento populacional, que tragam maior desenvolvimento socioeconómico e maior valorização do património histórico e cultural, bem como dos seus recursos naturais.
Palavras ainda para a necessidade de valorização e aproximação às freguesias rurais deste concelho extenso e imenso, num território que se insere num quadro bastante diverso.
A cerimónia fechou com homenagens, abraços e ovações aos distinguidos pelo feitos de uma vida dedicada a determinado projeto, modalidade ou setor ou pelos feitos alcançados.
Foram, por isso, agraciados com a Medalha Municipal de Mérito o Grupo Musical FH5, com quase 50 anos de carreira, e as empresas PAVIPREL, Manelzito da Estação, José Joaquim Lourenço Lda e Segorbe, Ferreira & Mesquita, Lda.
Quanto à Medalha Municipal de Valor e Altruísmo foi atribuída aos médicos Vieira da Luz e Maria João Pinheiro, e também à professora Fernanda Moucho, um ícone no ensino do Francês em terras nabantinas.
A Medalha Municipal de Valor Desportivo foi atribuída ao técnico Manuel Francisquinho, responsável pela evolução do judo como modalidade desportiva de destaque em Tomar, e ao jovem piloto de motocross Tomás Santos, que este ano vai participar no Campeonato da Europa e é atualmente campeão nacional de motocross na categoria de 85cc.
Já a Medalha de Honra do Município de Tomar, distinção máxima da autarquia, foi atribuída ao cineasta Manuel Vicente, à judoca e atleta olímpica Patrícia Sampaio, e aos professores fundadores do Instituto Politécnico de Tomar, Júlio das Neves e Rosário Baeta Neves.
Por último, a Santa Casa da Misericórdia de Tomar foi a única instituição a ser agraciada com a Medalha de Honra municipal.
Também foram homenageados com atribuição de diploma os funcionários da autarquia com 25 e 35 anos de serviço ao Município.