Cerca de 40 professores estão concentrados junto à Escola Básica e Secundária de Ourém, onde o Presidente da República dá hoje uma aula debate, ao segundo dia de uma greve por tempo indeterminado.
No local, onde pelas 10:30 estavam cerca de quatro dezenas de docentes, tarjas exibem frases como “Dignificar a profissão docente” e “Professores a lutar também estão a ensinar”.
Os docentes trazem ao peito um laço de cor preta com a inscrição “Estou em protesto”.
À Lusa, o professor João Filipe Oliveira explicou que o que move os docentes é o desejo de “tratamento profissional justo, dignificação da profissão e garantias de qualidade do ensino”.
“Há muitos assuntos que têm sido sistematicamente recusados pela tutela e que são de uma emergência, como a recuperação do tempo de serviço, a avaliação sem quotas ou a entrada dos professores contratados”, declarou.
Outra professora lamentou o “desrespeito pela escola pública com tudo o que isso acarreta, como professores desmotivados”.
Com 63 anos e 43 de profissão, esta docente considera existir um “desinvestimento constante na educação dos jovens, aos quais a escola cada vez menos atrai”.
Professores queixam-se muitas vezes com razão das suas condições – PR
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou hoje que os professores se queixam “muitas vezes com razão das suas condições”, ao ser recebido em Ourém com um protesto de docentes.
“Eles são fundamentais e queixam-se e queixam-se e queixam-se muitas vezes com razão das suas condições. E, naturalmente, que essa é uma preocupação que eu, como professor, acompanho desde sempre”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, em Ourém, onde hoje foi recebido junto à Escola Básica e Secundária por professores em protesto no segundo dia de greve por tempo indeterminado convocada pelo Sindicato de Todos os Professores (S.TO.P.).
O chefe de Estado adiantou que os docentes “estão a pensar, sobretudo nos professores do básico e do secundário”, mas o problema é geral “a todos os graus de ensino”.
“É uma preocupação, em muitos casos, muito justa”, declarou, considerando que “os professores são do mais importante” que o país tem, “conjuntamente com o pessoal de saúde, dentro da função pública, porque tudo começa na saúde e depois continua na educação”.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, as duas áreas “estão muito ligadas e são fundamentais para garantir a justiça, a igualdade e o progresso do país”.
À chegada, professores e alunos cantaram os parabéns ao Presidente da República, que completa hoje 74 anos, e uma professora em protesto entregou ao Presidente da República livros escritos por um aluno da escola.
“Esses são os méritos da escola”, declarou a docente ao chefe de Estado, ao que Marcelo Rebelo de Sousa acrescentou: “Em particular da escola pública”.
Sobre a oferta, disse que “é o melhor presente” que lhe podiam dar.
“Eu adoro livros, sou professor, e um livro de um aluno quer dizer muito sobre aquilo que os professores fazem todos os dias e, muitas vezes, em condições dificílimas”, referiu, apontando, por exemplo, a pandemia de covid-19 ou os problemas que têm no seu estatuto.
O Sindicato de Todos os Professores (S.TO.P.) convocou uma greve por tempo indeterminado, desde 09 de dezembro, em protesto contra as propostas de alteração aos concursos e para exigir respostas a problemas antigos.
Em comunicado, o sindicato, que representa cerca de 1.300 docentes, refere que a “forma de luta inédita” resulta de uma sondagem realizada no blogue ArLindo, em que 1.720 pessoas apoiaram a realização de uma greve por tempo indeterminado.
Entre as principais reivindicações, o S.TO.P. aponta “questões fundamentais do passado não resolvidas”, defendendo, desde logo, a contabilização de todo o tempo de serviço, o fim das vagas de acesso aos 5.º e 7.º escalões e a possibilidade de aposentação sem penalização após 36 anos de serviço.
Critica também as alterações recentes ao regime de mobilidade por doença, as ultrapassagens na progressão da carreira docente e reivindica soluções para os professores em monodocência e uma avaliação sem quotas.
A greve é igualmente uma resposta às propostas do Ministério da Educação para a revisão do regime de recrutamento e mobilidade do pessoal docente, que está a ser negociada entre a tutela e os sindicatos do setor.