A Venezuela ‘estreou-se’ hoje no palmarés da Volta ao Alentejo em bicicleta, depois de Orluis Aular (Caja Rural) ter confirmado o triunfo na 39.ª edição, ao ser quarto na última etapa, vencida pelo espanhol Juan José Lobato (Euskaltel-Euskadi).
Esperava-se muito da quinta tirada, mas esta limitou-se a confirmar aquilo que o contrarrelógio de Castelo de Vide delineou: Orluis Aular voltou a demonstrar ser o homem mais forte desta ‘Alentejana’ – venceu duas etapas, foi segundo numa e terceiro noutra -, e levou a amarela para casa, mantendo as diferenças para Xabier Azparren (Euskaltel-Euskadi), segundo a 05 segundos, e José Neves (W52-FC Porto), terceiro a 24.
“Vinha muito bem de forma, porque preparei bem esta prova, porque de seguida tenho a Volta ao País Basco”, resumiu o lacónico ciclista da Caja Rural, assumindo que a ideia da equipa, com este triunfo, era demonstrar que merecia estar na Volta a Espanha, para a qual não foi, surpreendentemente, convidada.

Esta Volta ao Alentejo foi, em suma, uma luta entre equipas espanholas, com as formações nacionais a passarem ao lado da 39.ª edição, exceção feita, novamente, à Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados, que triunfou com Leangel Linarez na terceira etapa, e a Rodrigo Caixas, o jovem da LA Alumínios-Credibom-MarcosCar que se sagrou ‘rei da montanha’.
A W52-FC Porto, a ‘anos luz’ da todo-poderosa formação que dominou o ciclismo português nos últimos anos, levou para casa a classificação por equipas, mas hoje desiludiu, ao não ser capaz de esboçar uma tática que permitisse ao campeão nacional de fundo lutar pela amarela.
Sábado: Neves ainda sonhou, mas a vitória foi para o ‘amarela’ Aular
Orluis Aular (Caja Rural) pode ter dado no sábado um passo decisivo para a conquista da 39.ª Volta ao Alentejo em bicicleta, ao vencer o curto e técnico contrarrelógio da quarta etapa, para ‘desgosto’ do português José Neves.
O ciclista venezuelano, embalado pela camisola amarela que vestia, pedalou a uma média de 39,842 km/h no ‘crono’ de 8,4 quilómetros pelas ruas de Castelo de Vide para parar o cronómetro nos 12.39 minutos, deixando os segundo e terceiro classificados, respetivamente Xabier Azparren (Euskaltel-Euskadi) e o luso da W52-FC Porto, a dois segundos.
O técnico contrarrelógio da quarta etapa – um permanente ‘carrossel’, com subidas ‘rompe-pernas’ e descidas com viragens apertadas e curvas ‘cegas’ – fazia adivinhar que só um especialista poderia sair da quarta tirada com a vitória, uma probabilidade que foi confirmada assim que José Neves cortou a meta.
O campeão nacional de fundo foi o 69.º corredor a sair para a estrada e, depois de fixar o melhor tempo, aguardou placidamente sentado pelo desfile dos 50 ciclistas que saíram para a estrada depois de si, até ver, finalmente, o seu tempo ser batido por apenas seis centésimos pelo basco Xabier Azparren (Euskaltel-Euskadi), vencedor da segunda etapa e ex-líder da geral.
“Estar aqui 40 minutos à espera e perder assim é um pouco triste. Já o ano passado perdi o ‘crono’ por oito milésimos [para o campeão Mauricio Moreira], hoje foi por dois segundos… À terceira não foi de vez ”, lamentou José Neves, sem conseguir esconder a deceção e a frustração por ter voltado a ver o triunfo no contrarrelógio de Castelo de Vide fugir-lhe num ‘sopro’.
Aular tem agora ‘apenas’ 171,9 quilómetros, entre Castelo de Vide e Évora, a separá-lo da vitória final na ‘Alentejana’ e do primeiro lugar no pódio instalado na Praça do Giraldo, onde o pelotão irá ‘desembocar’ após uns últimos 800 metros inclinados, no empedrado, e potencialmente perigosos, caso se confirme a chuva prevista para este domingo.
Etapa de Ponte de Sor decidida ao ‘photo finish’
A 39.ª Volta ao Alentejo tornou-se em Ponte de Sor uma ‘questão’ venezuelana, após Leangel Linarez (Tavfer-Mortágua-Ovos Matinados) bater na sexta-feira o compatriota Orluis Aular na luta pela terceira etapa, com o ciclista da Caja Rural a ter de ‘contentar-se’ com a amarela.
Quando cortaram a meta, lado a lado, em Ponte de Sor, com o tempo de 3:58.33 horas, foi impossível destrinçar qual dos dois tinha vencido – a incerteza era tanta que nenhum ergueu os braços, ‘reclamando’ o triunfo -, sendo necessário recorrer a uma demorada análise do ‘photo finish’ para perceber que o venezuelano da equipa portuguesa era o vencedor.
A notícia correu rápido e Linarez apressou-se a festejar com os seus colegas aquela que é a sua segunda vitória na temporada, após ter conquistado a Prova de Abertura.
“Tínhamos planeado isto desde que começou a etapa. Estou muito feliz com esta vitória, que é muito justa. Demorou um bocado a ser confirmada, mas acabaram por dar-me a etapa a mim. Pedalei até à linha, foi muito ‘apertado’ e bati um grande amigo, a quem quero felicitar pelo seu segundo lugar”, declarou o corredor de 24 anos.
VIDEO | JOAQUIM GOMES, EX-CICLISTA E DIRETOR DE CORRIDA:
Apesar de derrotado na meta, Orluis Aular valeu-se das bonificações para recuperar a camisola amarela, perdida na véspera para o basco Xabier Azparren (Euskaltel-Euskadi), agora segundo na geral, a três segundos do líder.
Antes da ‘dança de lugares’, motivada pelos segundos de bonificação distribuídos pelos três primeiros na etapa – e também nas metas volantes -, houve 176,7 quilómetros para percorrer desde Elvas, a cidade Património Mundial da Unesco que regressou ao percurso da ‘Alentejana’ 17 anos depois de ter marcado presença pela última vez.

O ‘valente’ Héctor Sáez, a cumprir a sua primeira temporada em território nacional, com as cores da Glassdrive-Q8-Anicolor, foi o primeiro a conseguir distanciar-se do pelotão, saltando para a frente de corrida, em solitário, ao quilómetro 39.
O espanhol, vencedor de uma etapa da Volta a Portugal em 2019, construiu uma diferença que chegou a ser superior a dois minutos, mas, ao quilómetro 84, ‘recebeu’ a companhia dos compatriotas Ángel Madrazo e Jesús Ezquerra, ambos da Burgos-BH, que contra-atacaram no pelotão.
O entendimento do trio foi insuficiente para a ‘aventura’ vingar, com os fugitivos a serem alcançados a pouco mais de 50 quilómetros da meta, por obra da Euskaltel-Euskadi, apostada em defender a liderança da geral de Xabier Azparren.
Alberto Gallego (Rádio Popular-Paredes-Boavista) e Alexandre Montez (LA Alumínios-Credibom-MarcosCar) ainda tentaram a sua sorte, mas a discussão da terceira etapa haveria de ser feita em pelotão compacto, depois de uma queda a três quilómetros da meta ainda ter causado agitação no grupo.
Lançado o ‘sprint’, os dois venezuelanos foram claramente superiores a toda a concorrência, relegando Daniel Freitas e César Martingil, o duo de ‘sprinters’ da Rádio Popular-Paredes-Boavista, para as terceira e quarta posições, respetivamente.

Somadas as bonificações, Aular voltou a vestir-se de amarelo, algo que encheu de satisfação o vencedor da primeira etapa da 39.ª Volta ao Alentejo.
“Estou contente por ter recuperado a camisola. A equipa esteve fenomenal hoje, fizemos uma grande etapa. Não conseguimos a vitória da etapa, mas recuperámos a liderança”, congratulou-se.
O ciclista da Caja Rural, que tem oito segundos de vantagem para Linarez, terceiro, e nove para Tiago Machado (Rádio Popular-Paredes-Boavista), o melhor português, na quarta posição, já aponta ao curto e decisivo contrarrelógio de sábado, de 8,4 quilómetros, em Castelo de Vide.
“Temos a liderança e isso dá-me alguma vantagem para saber as referências dos restantes corredores. É um ‘crono’ bastante curto e técnico nas descidas. Amanhã [sábado], é dar tudo, porque é a etapa em que se vai decidir a corrida”, concluiu o camisola amarela.
c/LUSA
Fotogaleria e multimédia de Jorge Santiago e David Belém Pereira: