Em julho a ANACOM percorreu o concelho de Ourém a avaliar a qualidade da rede fixa e da rede móvel, essenciais às comunicações. A qualidade é deficitária sobretudo no norte e litoral do concelho Foto: mediotejo.net

A ANACOM – Autoridade Nacional de Comunicações acedeu ao pedido do município de Ourém e realizou entre os dias 13 e 16 de julho um estudo de campo no concelho, analisando a rede de comunicações ao longo de 951 quilómetros de território. A conclusão: as redes fixa e móvel são extremamente deficitárias, sobretudo no norte e zona litoral do concelho de Ourém. Se a instalação de fibra ótica (rede fixa) necessitará de investimentos mais avultados, ao nível da rede móvel a ANACOM está confiante que até 2023 é possível a cobertura atingir os 75%, ultrapassando os 90% em 2025.

Os técnicos da ANACOM visitaram o concelho de Ourém no mês de julho, respondendo assim aos múltiplos reptos das juntas de freguesia sobre as falhas constantes de internet e comunicações telefónicas nas localidades. O problema, admitiu o presidente a Câmara, Luís Albuquerque, numa conferência de imprensa na segunda-feira, 27 de julho, tornou-se mais evidente durante o confinamento, com a autarquia a ter que disponibilizar a vários estudantes “hotspots” para que pudessem assistir às aulas. As queixas das empresas são, por outro lado, bastante frequentes durante todo o ano, sobretudo no norte do concelho.

“O nosso concelho é muito disperso, o que torna difícil o acesso às redes de comunicação”, explicou Luís Albuquerque aos jornalistas, adiantando que esteve recentemente numa reunião com a Altice e espera reunir em breve com as outras operadores. “As comunicações são essenciais”, frisou, numa ótica de chamar população e empresas para se estabelecerem no concelho.

José Cadete de Matos e Luís Albuquerque apresentaram os dados do território aos presidentes de junta e comunicação social Foto: mediotejo.net

Da parte da ANACOM, o presidente da entidade, José Cadete de Matos, afirmou que os técnicos confirmaram no seu trabalho de campo o que já era do senso comum: que a cobertura ao nível das redes de alta velocidade é bastante fraca numa parte significativa do concelho. Por tal, salientou, uma das prioridades é estender a fibra ótica (rede fixa) a todo o concelho. No entanto, constatou, tal exige investimento de fundo ao nível das infraestruturas (condutas subterrâneas ou postes), cuja abordagem mais eficaz seria apostar nos fundos públicos, nomeadamente fundos europeus, eventualmente através dos municípios.

Apenas as freguesias de Nossa Senhora da Piedade e Fátima encontram-se bem servidas de fibra ótica, sendo que a Atouguia está servida acima dos 50%. Todas as outras dez freguesias do concelho de Ourém têm uma cobertura abaixo dos 10%, sendo inexistente em autarquias como Caxarias ou Urqueira.

No que toca à rede móvel, o cenário é idêntico, tendo o estudo de campo da ANACOM incidido nesta rede em particular. O norte do concelho é o que possui pior serviço, mas há inclusive certas zonas de Fátima onde a cobertura de rede móvel e de dados é inexistente.

Neste aspeto, José Cadete de Matos garantiu que até 2023 a rede móvel será reforçada, atingindo os 75% de cobertura nas zonas em carência. Em 2025 espera-se que esteja em cerca de 95%.

José Cadete de Matos constatou que o confinamento veio evidenciar os problemas de carência de redes de comunicações Foto: mediotejo.net

O responsável esteve em Ourém a convite do município, o segundo no país que teve este tratamento personalizado. “O que fizemos foi uma antecipação, como também fizemos em Porto de Mós”, explicou, afirmando que este estudo de campo vai percorrer a região Centro. Serão porém estudos mais abrangentes e não tão focados nos municípios, esclareceu. “Estes estudos vão fazer este retrato, que é o que as pessoas empiricamente já sabem”, admitiu.

José Cadete de Matos constatou que a pandemia e o confinamento vieram agravar muitas situações referentes às carências de redes de comunicação, devido ao teletrabalho. “O comércio eletrónico subiu imenso, o que afetou os correios”, constatou, comentando que é por estes canais que passará o futuro da economia.

A análise contemplou o estudo da cobertura de serviços e tecnologia rádio, serviço de voz, serviço de dados, serviço de transferência de ficheiros, serviço de navegação na Internet, serviço de Youtube Video Streaming e latência de transmissão de dados, disponibilizados pelas operadoras MEO, NOS E VODAFONE.

De acordo com a amostra foram objeto de análise 1106 chamadas de voz, 6767 sessões de dados, 623.981 medições de sinal rádio, tendo sido percorridos 951 quilómetros por todo o concelho de Ourém, entre os dias 13 e 16 deste mês de julho.

As conclusões desta avaliação reconhecem que a cobertura de rede móvel é deficitária na maioria do território do concelho, justificando a preocupação dos dirigentes autárquicos.

Luís Miguel Albuquerque realçou ainda que a eficácia das comunicações tem reflexos em situações tão periclitantes como o combate aos incêndios: “Trata-se de uma questão fundamental para a própria Proteção Civil porque só uma cobertura eficaz será capaz de garantir as comunicações entre todos os agentes envolvidos no combate a um incêndio, por exemplo.”

Cláudia Gameiro

Cláudia Gameiro, 32 anos, há nove a tentar entender o mundo com o olhar de jornalista. Navegando entre dois distritos, sempre com Fátima no horizonte, à descoberta de novos lugares. Não lhe peçam que fale, desenrasca-se melhor na escrita

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