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O alastrar da pandemia de Covid-19 veio envolver a sociedade numa estranha forma de vida, com medidas restritivas em várias vertentes e privando o contacto social, cancelando rotinas. Veio mudar o cenário para as escolas do país exigindo de um dia para o outro alteração de modelo de ensino, diferentes conteúdos e uma relação baseada no contacto através dos meios digitais e novas tecnologias. Na verdade, dadas as exigências repentinas e o facto de os Agrupamentos de Escolas e professores não estarem preparados para esta reviravolta, provavelmente tinha tudo para correr mal. Mas em Mação, até ver, a resposta foi célere e eficaz, implementando um modelo que garante o contacto com alunos e pais no dia-a-dia, no sentido de ninguém sair prejudicado ou constrangido das tarefas e matérias dadas. O objetivo é não deixar que a pandemia venha “hipotecar” o futuro dos alunos, seja de que ano de escolaridade forem.

O mediotejo.net quis saber mais sobre a estratégia implementada em Mação, pelo Agrupamento de Escolas, e começou por perceber junto dos docentes como foi a adaptação a esta nova realidade.

Contactámos a professora Lucília Nogueira, docente há 25 anos. Leciona Português, e Cidadania enquanto diretora de turma – sendo diretora de turma de uma das turmas de 8º ano da Escola Básica e Secundária de Mação.

A professora dá aulas a quatro turmas, de 8º e 11º anos, o que significa nada mais, nada menos, que cerca de 80 alunos para ensinar. Apesar de tudo, crê que a atuação e organização deste novo método de ensino à distância aconteceu de forma intuitiva, uma vez que o trabalho estava facilitado devido à aposta da Escola de Mação em formações na área das novas tecnologias, plataformas online e multimédia de ensino e aprendizagem para os docentes.

Uma das ferramentas que usava na sua disciplina era a Classroom, da Google, o que levou os seus alunos a já estarem ambientados e terem facilidade no acesso à informação a partir dali.

“A plataforma é idêntica ao Moodle, plataforma também muito utilizada em meio escolar e académico. Os alunos conseguem enviar mensagens privadas, e-mail, e têm uma secção para devolverem os trabalhos desenvolvidos. Estamos a dar oportunidade de fazerem manuscrito e enviarem fotografia, principalmente aos mais pequenos para sentirem maior responsabilidade. Na verdade, para alguns professores está a ser feito por esta via, para outros está a ser enviado por e-mail”, contou, dando nota de que cada professor se socorreu das ferramentas com as quais se sentia mais à vontade.

Lucília conta que a escola se organizou logo no dia 13 de março, ficando os diretores de turma encarregues de enviar informações e diretrizes aos pais e aos alunos, estando em contacto permanente.

“Começámos logo a trabalhar com os pais no dia 16, na segunda-feira. O diretor de turma recolhe todas as tarefas de todos os professores das restantes disciplinas, e depois vai inserir numa tabela a divisão de tarefas pelos cinco dias da semana, de forma a os alunos não trabalharem mais do que quatro disciplinas por dia”, referiu, indicando que tudo passa pelo diretor de turma que organiza a semana, evitando sobrecarga nos alunos pelos quais é responsável.

Lucília Nogueira, professora de Português e diretora de turma de um 8º ano, trabalha a partir de casa com cerca de 80 alunos de 8º e 11º. Privilegia as aulas com recurso a plataformas como a Google Classroom, algo que já utilizava com os seus alunos em contexto “normal”. Foto: DR

“Todos os dias pela manhã envio para os pais e para os alunos da minha direção de turma o e-mail com toda a informação referente àquele dia”, aludiu.

Em termos dos conteúdos facultados, requerem pesquisa e maior criatividade aos professores, que vão recorrendo a vídeos e outros conteúdos multimédia disponíveis na Internet para exemplificarem as matérias e temas. Lucília Nogueira refere que se recorre muito a vídeos do YouTube e a conteúdos da Escola Virtual, mas são também feitas fichas dos manuais escolares, com os professores a partilharem as respetivas correções.

A docente refere que, pessoalmente, opta por utilizar estratégias diferentes e muito viradas para a interação com os alunos e uso das novas tecnologias e plataformas, continuando assim a apostar nestas formas de comunicação e trabalho, prosseguindo a metodologia já usada em regime presencial.

“Nas turmas de 8º ano, como tinham textos para ler e fichas para fazer, acabei por fazer vídeos com as respostas e a explicar como se chega às conclusões, tendo por base a listagem de perguntas que os alunos assinalaram como tendo mais dificuldade”, exemplificou.

Lucília frequentou formação sobre a plataforma Milage Aprender +, onde aprendeu a fazer vídeos explicativos e a dar aulas com recurso às ferramentas digitais gratuitas.

Quanto às aulas à distância, já utilizou a plataforma Zoom, tanto com 8º ano como com 11º, num registo de videoconferência.

No caso do 11º a adesão foi de 100%. Já no 8º verificou que alguns alunos não puderam assistir por más ligações de Internet ou não conseguiram entrar, simplesmente. “Na minha direção de turma há duas meninas que só têm telemóvel, não têm computador”, deu conta.

“Do total de 60, estiveram comigo nessa aula 44 alunos. Deu para lerem, responderem, dei-lhes tempo para trabalharem, procurei que não fosse aula expositiva. Mas acabei por fazer um vídeo explicativo para disponibilizar aos que não estiveram na aula, onde coloquei os passos todos que demos”, explicou, acrescentando que os alunos têm reagido bem a esta forma de disponibilização das matérias.

Também há um reforço de atenção neste novo formato de ensino, à distância e longe das salas de aula, que se tem com os alunos com necessidades educativas especiais. Na direção de turma da professora Lucília há caso de uma aluna a quem os professores enviaram tarefas específicas “mas no 3º período deve rever-se a forma de trabalhar com aqueles que não têm tantos recursos em casa, porque há vários alunos que não têm computador”.

Em termos daqueles que eram os critérios definidos pelo regime presencial, nomeadamente a assiduidade, o comportamento, a participação e debate de ideias, estes deixam de fazer sentido fora do ambiente de sala.

“Os critérios vão ter de mudar um bocadinho. Já fazíamos quizzes, fichas online, tipos de exercícios que gostaram muito. Agora, na parte escrita, se calhar temos de pensar em aulas em que estejam a fazer um texto. Eu já cheguei a pedir fotografia para confirmar se estavam a fazer ou não e, no futuro, teremos que avaliar todos os documentos e elementos que nos enviarem”, disse.

A ligação essencialmente feita pelo online exige muitas horas em frente ao computador ou tablet, e a primeira semana foi mais complicada em termos de gestão do tempo, admitiu a docente, acrescentando que os alunos ainda “não se habituaram a criar os seus horários e fazer gestão do tempo de estudo e trabalho online”.

“Alguns, com maior acompanhamento dos pais, fizeram horários de estudo. Outros têm menos acompanhamento porque os pais são obrigados a trabalhar, nem todos estão em casa, e com estas idades nem sequer têm direito a estar em casa. E nota-se a diferença entre os miúdos de 8º ano que têm os pais com eles e os que não têm. Notamos isso”, assumiu.

E é aqui que a docente crê que acaba por ser necessária intervenção dos professores num sentido de responsabilização e pedagogia dos jovens, reforçando o acompanhamento à distância. “Temos contacto num grupo e através do Instagram, e eu vou lembrando aos alunos com menor acompanhamento parental os trabalhos que não se podem esquecer, vou perguntando se fizeram, vou conversando no dia-a-dia…”.

Já quanto à sobrecarga que se evita com a organização e distribuição das tarefas escolares, a professora garante que os docentes “não estão a ser demasiado rigorosos com o cumprimento de prazos”.

“Estamos a ser flexíveis. Se o aluno não fez para o dia que estava marcado, faz no dia seguinte”, disse, afirmando que a figura do professor enquanto autoridade não sai beliscada pelo distanciamento social.

Acabam mesmo por levar as aulas muito a sério, chegando a pedir autorização ao professor durante as aulas por videochamada para ir à casa de banho ou sair. “Somos os seus professores, e eles contam connosco e nós com eles”, confirmou.

Quanto à forma como os alunos vêm esta nova maneira de frequentar a escola, a professora garante que há várias versões. “Os alunos com quem lido continuam preocupados. A maior parte, pois já se sabe que mesmo na escola não estão sempre todos atentos e cumpridores. Mas quase todos estão a tentar cumprir. Alguns chegam a ficar baralhados e perguntam e confirmam mais que uma vez se já entregaram certo trabalho. Mas os diretores de turma têm ajudado nesse sentido, estando sempre em contacto com eles, para os ajudar e orientar. Os de 11º ano, por exemplo, estão assustados nomeadamente sobre se haverá ou não exames nacionais”.

Quanto aos trabalhos e tarefas propostas, Lucília Nogueira crê que os alunos “ainda pensam que se trata de TPC, mas não são”.

“São tarefas que deviam concluir, mediante um horário que deve ser feito pelos alunos, onde façam a gestão do seu tempo e fazendo o proposto. Mas tudo isto exige aprendizagem, e penso que estas duas semanas foram de aprendizagem. Acredito que se se mantiver assim no 3º período, os alunos já vão começar com mais regras, porque vão perceber que é para continuar e que vão ter que ter um horário de escola”, alertou.

Entre as disciplinas, Educação Física surge como uma catarse não só para os alunos, mas extensível a toda a família, sendo enviados treinos ou exemplos de exercícios que podem ser feitos em casa.

“Os jovens precisam mexer-se, e a professora de Educação Física encontrou um treino para fazerem em casa”, notou, acrescentando que os alunos chegam a enviar fotos para mostrarem que estão a fazer os exercícios propostos. “Há fotos de famílias completas a fazerem os treinos, não só do aluno. Também foi para criar alguma dinâmica na família, para não ser só estudo”.

Quanto à relação e diálogo com os pais, no caso da direção de turma, a docente refere que todos têm sido recetivos e “respondem a todos os e-mails”.

“Nota-se que estão preocupados, querem orientar os filhos. Mesmo os que estão a trabalhar sentem-se preocupados. Os pais reconhecem o trabalho que os professores têm tido. Estamos sempre em contacto, todos os dias. A maior parte está a trabalhar connosco”, assumiu.

Ainda assim, depois destas semanas experimentais de um novo modelo educativo patrocinado pelo Covid-19, o cansaço era já visível nos alunos, considerando assim que “esta interrupção letiva vai ser essencial para eles”.

Já o empenho e esforço dos professores, que acaba por ser invisível para a comunidade, passa por perder noção das horas gastas em frente ao computador e a responder a todas as solicitações dos alunos.

“Ontem às onze da noite ainda estava a responder a questões, porque os miúdos nos questionam a qualquer hora”, uma vez que as plataformas e as redes sociais são meios privilegiados de contacto e disponíveis a qualquer altura e à distância de um clique. Mas Lucília Nogueira admite que é algo que os alunos não sabem ainda gerir, e os professores também não, pois acabam por mostrar a sua disponibilidade para manter os alunos “ocupados” e dar-lhes “uma forma de fuga a tudo o que está a acontecer, ajudando a atenuar o medo e o receio que eles acabam por também demonstrar sentir”.

Quanto à pandemia e ao Covid-19, Lucília refere já ter abordado o tema com os seus alunos, com um espaço de diálogo onde transmitiram entre colegas desabafos e medos. “Sou professora de coração e enquanto me deixarem, estarei com eles”, assume, com determinação. A missão é continuar com empenho e afinco no sentido de os alunos “estarem o mais próximo possível da normalidade”.

Lucília Nogueira lida com o futuro, com os jovens. Mas nota-lhes o medo e diz ter pena pelo facto de estarem a ser sujeitos a esta situação, que atinge todos sem exceção.

“O que posso dizer é que, no que depender de mim enquanto professora, para as competências dos alunos continuarem a ser desenvolvidas, para continuarem a interessar-se pelo conhecimento, pela pesquisa, nós, professores, estaremos aqui. É a nossa profissão e é nosso dever…”, e a emoção da docente, ainda que por telefone, é difícil de esconder, acabando por desabafar que não tem esperança de voltar à escola no 3º período, ainda que gostasse muito de voltar.

“Parei de dar ‘Os Maias’ para não estragar aquele livro maravilhoso que gosto de o dar em aula, mas vou ter que arranjar outra forma de o abordar, se continuar assim…”, suspirou, como quem sublinha esta nova realidade, feita de desafios e que veio alterar aquela que seria a ordem natural das coisas, deixando um misto de sensações e emoções numa situação que tem de se conseguir, de alguma forma, controlar. Custe o que custar.

Um missão complicada para os pais, mas que não é de todo impossível

Foto: DR

Cláudio e Sofia Matias são irmãos. Vivem em Ortiga e frequentam ambos o Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, de Mação. Cláudio tem 14 anos, frequenta o 8ºC e é aluno de Lucília Nogueira. Sofia tem 9 anos e pertence à MAC 6 (única turma do 4º ano da E. B. 1 de Mação).

Vivem com os pais, Cláudia Cordeiro e Miguel Matias, ambos desempregados, sendo que Miguel, serralheiro mecânico, é caso recente: sofreu diretamente na pele o cancelamento de obras devido à atual pandemia.

Ambos acompanham os filhos, mas foi Cláudia que contou ao nosso jornal como têm sido as novas rotinas de estudo. Na verdade, considera que não foi fácil e que se trata de “uma missão complicada”.

De forma prática, estabeleceram que o dia é organizado tendo em conta que, às 10h00, já “estejam acordados e despertos para as tarefas que tenham a realizar”. Ainda assim, assume a mãe que “antes de almoçar mostram-se francamente pouco produtivos e mais apáticos, com vontade de recorrer aos elementos de satisfação rápida (tablets, telemóveis, etc). Depois de almoço é quando os conseguimos pôr a trabalhar com mais produtividade”. Estudam entre 3 a 4 horas por dia, cumprindo as tarefas pedidas pelos professores.

Por uma questão de hábito e bem-estar, indo ao encontro das preferências de conforto de ambos, estudam os dois no espaço anexo à cozinha, dispensando as secretárias de estudo em cada quarto.

Quanto à digitalização indispensável ao ensino à distância, reconhecem que foi fácil a adaptação lá em casa, pois os filhos têm os seus computadores. “Os meninos já tinham vindo a ser preparados pelos professores para trabalharem com grande parte destas ferramentas (Zoom, Google Classroom, Escola Virtual, entre outros)”, conta Cláudia. Têm acesso à Internet, em simultâneo, não tendo detetado problemas ou entraves aos seus estudos além do facto de não terem impressora.

Por outro lado, partilhou o caso de um sobrinho de 9 anos que está com os avós e não tem acesso a computador. “Ele conseguiu perfeitamente através do tablet proceder à realização das tarefas pedidas diariamente pelo professor, e enviar para aferição. Trata-se de uma criança de 9 anos, acompanhada ao longo destes dias de escola por um casal com 4º ano e sem grandes conhecimentos de informática”, contou.

Apesar disto, Cláudia reconhece que esta não será a opinião, nem a realidade de outras famílias, pois “depende muito das disponibilidades várias que caracterizam a vida de cada um”.

O facto de estarem desempregados, aproximou os pais do processo de monitorização diária dos trabalhos, estando em contacto com os docentes. “Quanto às indicações dos professores, ambos têm já o seu email onde recebem os trabalhos diariamente, mas tem havido o cuidados dos professores nos contactarem também via email e/ou telefone, no sentido de aferir a nossa perceção acerca deste processo, assim como para nos darem algum feedback do desempenho deles”, notou.

Em termos emocionais, a mãe reconhece “alguma tristeza” nos jovens. “Não há como, nem por quê, esconder dos miúdos aquilo que estamos a enfrentar e portanto eles acabam por demonstrar bastante preocupação”, afirmou, dando conta de que em casa se liga a televisão das 12 às 14 horas e depois das 20 às 22 horas para se manterem informados acerca dos números, das resoluções, e eles acompanham este processo. Falamos muito sobre isso. Até porque o Cláudio fez 14 anos no dia 21 de Março e tanto ele, como a irmã, tiveram de entender a razão pela qual não fizemos uma festa com a família como sempre temos feito. Demonstram medo, sim. Mas sobretudo as questões deles vão sempre para o tempo, perguntam «Será que ainda vamos estar muito tempo assim?»”

Tanto um como outro já dizem sentir saudades da escola, e um dos pontos altos do dia de Cláudio é quando tem aulas via Zoom “porque vê os colegas, vê e ouve a professora, há ali uma forma de colmatar a saudade que ele assume sentir. No caso da Sofia, que sempre foi extremamente tímida e pouco recetiva a conversas telefónicas, noto agora que gosta muito quando ouve o professor ao telefone, dá-lhe uma sensação de segurança”.

Já as redes sociais são a “mais-valia incontornável neste momento”, quer a nível escolar, quer a nível famliar. “No dia de anos do Cláudio fizemos videochamada e cantámos os parabéns (uns na Suíça, outros em Portugal) e foi mesmo uma alegria. Para além dos estudos, como já disse, andam sempre agarrados aos telemóveis. O Cláudio pratica algum desporto, bicicleta estática, e a Sofia gosta imenso de dançar”, enumerou.

Quanto ao método de ensino poder estender-se ao terceiro período, Cláudia crê que é difícil perceber se estes mecanismos serão os corretos e mais eficazes para um bom aproveitamento dos alunos e capacitação. “Não será nada fácil de resolver. Agora francamente achamos que a solução tem de passar por algo bastante mais universal do que o acesso a tablets e internet, pois nem todos os alunos podem aceder a estes meios”, mencionou.

Por outro lado, o diálogo entre pais e professores tem sido fortalecido neste registo, considerando Cláudia que “estão hoje mais próximos e empenhados, pois creio que estão todos conscientes de que só assim conseguirão levar o barco a bom porto”.

Questionados sobre o que está a correr muito bem, apontam sem dúvidas o “empenho dos professores”, lembrando que são uma classe “frequentemente agredida, atacada, às vezes menosprezada até, e eles têm sido verdadeiros heróis sem capa. Estas pessoas merecem um enorme aplauso”.

Quanto ao que eventualmente possa correr menos bem, prende-se com o exagerado volume de trabalhos, que ao aglomerar com todas as disciplinas, acaba por ser grande. “Convenhamos, os professores estão também eles a adaptar-se a esta nova realidade e a diferença entre pecar por excesso ou por defeito é difícil de aferir. Há que dar tempo aos processos. Há que dar feedback aos professores. Temos todos de contribuir”, concluiu.

“Não havia nenhuma escola que estivesse preparada para responder, desta forma muito mediatizada na relação direta com os alunos” – diretor do AEVH

José António Almeida, diretor do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte, de Mação. Foto: mediotejo.net

Contactado pelo mediotejo.net, José António Almeida, diretor do Agrupamento de Escolas de Mação, reconheceu que estes novos tempos vieram colocar um desafio em cima da mesa que nenhuma escola estaria preparada para enfrentar. Ainda assim é seu entendimento que o Agrupamento de Escolas conseguiu responder “de forma bastante rápida e eficiente”.

“Desde o primeiro dia os miúdos mantiveram contacto de forma privilegiada com o diretor de turma e no caso do primeiro ciclo com o professor titular de turma”, disse, reconhecendo que “apenas no primeiro dia não tivemos assim tanto controlo com as solicitações dos vários professores, a partir do segundo dia todo esse trabalho começou a ser organizado e os miúdos tinham no máximo quatro solicitações por dia, e cada uma delas num máximo de meia hora”, o que resultaria em quatro disciplinas envolvidas, duas de manhã e duas de tarde.

José António Almeida lembrou a mais-valia do Agrupamento de Escolas de Mação quanto à formação contínua dos professores na área das novas tecnologias e tecnologias de informação e comunicação. “Grande parte dos professores já dominam um conjunto de ferramentas que lhe permite trabalhar confortavelmente no ensino à distância, sendo que mesmo no funcionamento normal da escola são solicitadas tarefas deste tipo aos alunos”, contou.

O objetivo de futuro é uniformizar o processo, por forma a não baralhar os alunos, tendo em conta que uns professores utilizam mais determinada aplicação e outros preferem outras. “O miúdo anda de meia em meia hora a saltar de plataforma em plataforma e isso não é muito confortável para ninguém. É isso que estamos a afinar”, notou.

O diretor referiu ao nosso jornal ter enviado orientações a todos os professores no sentido de “elaborarem um guião ou plano onde está estipulado o que vai ser feito diariamente. É um plano semanal que será enviado aos alunos, onde sabem exatamente como, quando e o que vão fazer nessa semana”. Esse plano vai ainda disponibilizar as ferramentas que vão ser utilizadas, o tempo, os apoios.

A interrupção letiva servirá de descanso para os alunos e pais, mas os professores vão trabalhar no sentido de fortalecer e ajustar a estratégia de ensino à distância. “Vamos aproveitar as interrupções letivas para nos organizarmos, para responder de forma abrangente, com o objetivo de envolver todos os alunos”, assumiu.

A escola vai respondendo conforme as necessidades dos alunos, tendo em conta as suas especificidades de cada um. Aqui, a direção do agrupamento de escolas deu a missão a cada diretor de turma para contactar os pais, no sentido de perceber o perfil do agregado familiar e caraterísticas, bem como necessidades, problemas de saúde e conforto na habitação. Esses dados contribuem para que o AEVH consiga preparar “respostas à altura” dos problemas apresentados.

“Estamos a trabalhar para, aos alunos que não tenham computador, conseguirmos arranjar um computador ou tablet para as suas casas em determinado período, para que seja capaz de se interligar à escola”, notou, lembrando que também o Ministério da Educação está a fazer um “trabalho muito interessante e positivo e a bom ritmo” ao envolver instituições como os Correios, a GNR, a Escola Segura, para fazerem a ligação entre a Escola e os agregados familiares com os quais a escola esteja com mais dificuldade em comunicar.

“Criando instrumentos pedagógicos, no sentido de disponibilizar os conteúdos nomeadamente em formato impresso, não segregando ninguém por não ter acesso à Internet, não ter smartphone ou computador. Pedimos aos professores que produzam materialmente os conteúdos e depois os façam chegar à direção da Escola, que se compromete a fazê-los chegar aos alunos. Na nossa escola desde o primeiro dia que todos os alunos estão a ser devidamente acompanhados”, sublinhou o docente.

Por outro lado, o Agrupamento de Escolas maçaense encerra ainda a realidade dos cursos profissionais, caso do curso de Restauração e Hotelaria, com uma vertente maioritariamente prática e que desenvolvia atividade no refeitório escolar e no restaurante pedagógico anexo ao mesmo.

Agora, os docentes e formadores apostam num modelo muito mais multimédia que o do ensino regular. “Como é um trabalho muito prático, exige demonstrações. Os técnicos estão a filmar demonstrações e a fazê-las chegar aos alunos, vão buscar conteúdos ao YouTube ou outras plataformas. Os alunos executam os trabalhos solicitados, gravam o processo, e devolvem aos professores para que seja apreciado e, caso necessário, sejam indicadas correções. Aqui não é tão fácil fazer o trabalho sem utilizar as ferramentas mais tecnológicas. Mas sendo alunos de ensino secundário, não conheço ninguém que esteja privado de alguma das ferramentas essenciais, que é ter ou smartphone ou tablet ou computador. Mas havendo, vamos fazer chegar para que não fique de fora da aprendizagem”, especificou.

Quanto às horas de trabalho despendidas pelos docentes neste novo processo educativo, o diretor do Agrupamento assume que a maior parte está a dedicar mais tempo à escola do que dedicavam de forma presencial. “Os alunos solicitam-nos muitas vezes, com um horário muito mais alargado, e a boa-vontade e competências dos professores leva-os a responder desde manhã até altas horas da noite”, disse, crendo que as exigências não são nada menores do que as do ensino presencial.

“Eu rendo a minha homenagem a muitos deste profissionais fantásticos que não olham a meios para que os alunos fiquem o melhor preparados possível para que depois possam responder a avaliações externas. Não são sabemos se vai haver provas de aferição ou exames nacionais, mas estamos a fazer tudo para que estejam preparados para eles”

Falta o contacto pessoal, o toque, o cheiro, faltam as sensações e perceções, mas as aprendizagens previstas estão a ser o foco, no sentido de os alunos adquirirem competências e conhecimentos, e saírem o melhor preparados para corresponder às exigências do próximo ano letivo.

O diretor do Agrupamento assegura que vai haver terceiro período, após informação do Secretário de Estado em reunião desta quinta-feira, mas desconhece-se ainda quais os moldes em que se irá desenvolver. “Estamos a fazer de tudo para que o 3º período decorra com qualidade na nossa escola. Mas se alguma coisa ficar aquém do previsto, somos capazes de para o ano compensar algo que não tivesse sido feito”, garantiu.

Já os critérios de avaliação vão ter de ser reajustados, pois não se podem avaliar determinados elementos típicos de desempenho em sala de aula. “Vamos ser capazes de os adaptar a esta nova realidade e fazer um trabalho de avaliação sério, no sentido de nenhum aluno do Agrupamento sair prejudicado”, indicou.

A atenção ao emocional e o acompanhamento psicológico não são descurados estando, ao dispor dos alunos e pais, quatro psicólogas para garantir o apoio necessário nas mais diversas questões que possam surgir, nomeadamente como reação a estes novos tempos e às medidas e informações que regem esta nova forma de vida, a partir de casa e onde se privam os contactos sociais, além do estritamente necessário.

“Estamos a tentar preencher o leque mais largo possível de todas as fragilidades dos miúdos, no sentido de atenuar todo e qualquer problema que possa surgir nesta fase, com uma preocupação: que passem por esta fase fazendo aprendizagens sólidas, significativas, capazes de os encaminhar para percursos futuros”.

Até agora o Agrupamento de Escolas não serviu refeições a alunos carenciados no refeitório escolar, nem recebeu nenhum aluno filho de profissionais considerados prioritários (forças de segurança a profissionais de saúde). Ainda assim, o diretor do AEVH assegura que a escola “tem estrutura montada para servir as refeições que forem necessárias”.

“Não temos os assistentes operacionais todos a trabalhar, mas estão instruídos de que podem ser chamados a qualquer momento e estão disponíveis. O refeitório está funcional, pode servir refeições que sejam necessárias”, frisou.

O momento, segundo José António Almeida, não é para críticas, sentindo que ser verifica muito empenho e solidariedade entre todos os agentes locais e nacionais. O diretor referiu a disponibilidade do Secretário de Estado da Educação, e sublinhou que é importante “apontar os aspetos positivos e todos os agentes estão preocupados no sentido de colaborar, fazer bem”.

“Acho que todos estamos o melhor que podemos no sentido de responder de forma eficiente para que os danos sejam menores e os alunos consigam ultrapassar o melhor possível este problema, que não sabemos ainda que dimensão vai tomar”, terminou o diretor.

Joana Rita Santos

Formada em Jornalismo, faz da vida uma compilação de pequenos prazeres, onde não falta a escrita, a leitura, a fotografia, a música. Viciada no verbo Ir, nada supera o gozo de partir à descoberta das terras, das gentes, dos trilhos e da natureza... também por isto continua a crer no jornalismo de proximidade. Já esteve mais longe de forrar as paredes de casa com estantes de livros. Não troca a paz da consciência tranquila e a gargalhada dos seus por nada deste mundo.

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