A novidade da reabertura do Restaurante Pedagógico do Agrupamento de Escolas Verde Horizonte de Mação foi precisamente que a equipa dos alunos do curso estaria a trabalhar com alunos espanhóis, vindos de Valdepeñas, Ciudad Real – Espanha, concluindo o primeiro intercâmbio internacional. Alunos do I.E.S. Gregorio Prieto vieram conviver com os alunos do ensino profissional e docentes em Mação e aprender o que se faz, ensina e como se desenvolve a componente técnica.
Depois de um beberete a abrir o apetite com sabores bem tradicionais, onde não faltou a morcela e o pastel de bacalhau, seguiu-se o ambiente aconchegante, místico, em mais uma viagem de sabores naquele que é o canto mais badalado do refeitório escolar: o espaço adaptado a restaurante pedagógico para a prática dos alunos do curso de Restauração e Hotelaria, onde o serviço é levado muito a sério e cumprido com rigor. Ali, os menus não se repetem e os alunos estão sempre a surpreender.

A decoração e disposição das mesas é também pensada pelos jovens e seus formadores, contando com auxílio de outros cursos profissionais, caso do de Mecatrónica, para dar forma a ideias de centros de mesa, castiçais e outros acessórios decorativos.
O menu de sexta-feira à noite, dia 10 de novembro, a anteceder o Dia de São Martinho, foi de temática outonal, conjugando ingredientes da cozinha portuguesa com receitas inovadoras. Desde uma sopa de abóbora e castanha contendo gnocchis, tendo como entrada a Perca com quinoa, pólen e presunto, e seguindo-se um generoso prato de Lombinho de porco preto, com toucinho enrolado, batata doce assada e esparregado. Finalizou com uma bem doce tarte de dióspiro e merengue.
Na presença de dezenas de convidados, corpo docente, presidente da Associação de Pais e direção do Agrupamento de Escolas, representantes das entidades municipais, coletividades e demais parceiros, o jantar contou ainda com animação musical, na voz da artista residente Francisca Correia, acompanhada pelo pai, Manuel Correia, na guitarra, e a arrancar fortes aplausos à plateia a cada fado cantado.

José António Almeida, diretor do agrupamento de escolas, explicou que este jantar de reabertura do restaurante pedagógico do AEVH de Mação marcou a conclusão da primeira experiência de internacionalização do curso profissional.
“Estamos a concluir uma semana de ERASMUS. E apesar de esta ser a cerimónia de reabertura do restaurante pedagógico, não deixa de ser uma aula e um ambiente formativo. Os alunos estão em formação e esta é uma sala de aula com uma cara diferente, vestida de restaurante”, introduziu o diretor.
“Temos uma responsabilidade enorme em dar conhecimentos técnicos de qualidade, e só é possível dá-los indo buscar gente ao mercado de trabalho, e por isso nós estamos extremamente gratos por ter connosco três chefs, a Raquel, a Bárbara e o Sílvio”, disse.

Perante aplausos, reconhecimento e agradecimentos, após o serviço do jantar, o diretor chamou todos os alunos à sala.
“Existe um protocolo do qual não abdico nunca, que é trazer à sala todos os miúdos que estiveram em formação e que estiveram a preparar este jantar. Para eles é absolutamente importante em termos formativos que, primeiro, contactem olhos nos olhos com quem esteve a provar, a comer o fruto do trabalho deles e para poderem crescer com estes ambientes, poderem trocar olhares, poderem ouvir aquilo que temos para lhes dizer e é assim que eles vão crescendo”, notou, reconhecendo que para alguns seria desconfortável estar ali, mas outros estariam ali com orgulho, representando o curso, com alunos do 1º ao 3º ano.
Entre os alunos do curso de Restauração e Hotelaria, também os alunos do Curso de Gestão e Informação Turística colaboraram na iniciativa. “Hoje, cada vez mais, o turismo anda muito ligado à gastronomia, e o turismo gastronómico é talvez o mais importante de todos”, referiu José António Almeida, agradecendo aos alunos do curso e à formadora Ana Pina, e frisando que “aprendem muito entre pares e aprendem muito uns com os outros”.
Na iniciativa esteve também Vasco Estrela, presidente da Câmara Municipal de Mação, que brincou com o facto de este restaurante pedagógico ser inaugurado todos os anos e que por isso “deve ser caso único no país”.
Dirigindo-se aos jovens alunos, o autarca formulou votos de sucesso na sua formação, e deixou a “garantia” da parte da Câmara Municipal quanto ao apoio para que o curso possa atingir os seus objetivos e para que os alunos possam sair formados para o mercado de trabalho. “Está aqui uma família muito unida, com provas dadas ao longo destes anos”, reconheceu.

Na ocasião, o diretor do Agrupamento de Escolas deixou pedidos à Câmara Municipal de Mação, nomeadamente que os cursos profissionais possam acompanhar a autarquia quando tem que se fazer representar institucionalmente em eventos de diversa ordem.
Abordando ainda a nova realidade perante o processo de transferência de competências do Estado para as autarquias locais no domínio da Educação, José António Almeida não escondeu, uma vez mais, não ser adepto deste processo.
“Andamos há uns meses a equilibrar-nos e a percebermos como nos vamos orientar. Ainda andamos a afinar e acertar detalhes. Para mim a transferência de competências não veio beneficiar grande coisa, porque nós tínhamos aquilo que a Câmara nos dava sem transferência de competências. A Câmara não passou a fazer mais do que aquilo que fazia por ter esta transferência. Mas nós, no agrupamento, ficámos a perder porque tínhamos o nosso financiamento e agora não o temos e não tem sido fácil equilibrar”, referiu, frisando que o pacote financeiro que antes era entregue ao agrupamento de escolas, é agora transferido para a autarquia. Mas em termos pedagógicos, entende o diretor, não se notarão grandes diferenças.

Falando em intervenções de requalificação na escola, disse que não iria descansar até alcançar uma nova sala de alunos, espaço polivalente, com dignidade, onde atualmente só cabe um terço dos alunos.
O diretor do AEVH rez referência ainda ao sonho de ter uma oficina que albergasse a formação profissional na área da Mecatrónica Automóvel. “Temos muita dificuldade em dar mais qualidade à formação”, reconheceu, entendendo que este espaço iria permitir uma evolução nesta área.
“Façam o favor de ser felizes, e ajudem-nos a formar estes meninos, porque nós trabalhamos todos os dias, muito, para que eles saiam daqui não só técnicos, mas homens e mulheres capazes de nos fazer orgulhar do nosso trabalho”, concluiu, conforme relatou em declarações à comunicação social sobre os objetivos desta formação “de qualidade” para o crescimento dos alunos, criando “desafios que os façam crescer em termos técnicos, científicos e profissionais, mas também em termos sociais e éticos. Nós queremos que eles saiam daqui bons técnicos, mas também boas pessoas”.
Em Mação, cada experiência no restaurante pedagógico é sempre uma agradável surpresa para todos os presentes, e a excelência e vontade de inovar são a chave-mestra para o sucesso deste curso que, ao longo dos anos, tem atraído muitos jovens que prosseguem os estudos e seguem a sua vocação para a cozinha e pastelaria. Muitos são os exemplos de alunos ali formados que estão hoje à frente de restaurantes e estabelecimentos de hotelaria na região e no país, e isso é motivo de satisfação e orgulho para o agrupamento de escolas e todos os docentes, sendo também força motriz e incentivo para procurar o progresso e a inovação no ensino público.