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Questionado na reunião de Câmara de 21 de junho, o presidente de Câmara, José Pio (PS) disse que o concelho está “mal” no que toca à situação de médicos de medicina geral e familiar, vulgo médicos de família. Um dos três médicos que se encontra ao serviço da população irá retirar-se em agosto. Por outro lado, a autarquia acusa o médico que veio reforçar o Centro de Saúde de Gavião de não estar a cumprir com o acordo assinado em março e coloca a hipótese de rescindir.

Após pedido de esclarecimento por parte do vereador da CDU, Rui Vieira, o autarca de Gavião disse que se está a tentar encontrar soluções, não escondendo alguma apreensão com o que o futuro reserva em termos de saúde para a população do concelho.

A ULSNA (Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano) estará a tentar contratar um médico “definitivamente” para o concelho, mas José Pio, presidente da Câmara de Gavião, entende que não está a ser feito o suficiente para colmatar esta falta que tanto causa constrangimentos à população, especialmente à mais idosa e que necessita de cuidados e acompanhamento mais regulares.

A Câmara Municipal já indicou um nome de um clínico que “manifestou vontade de vir para Gavião”, indicou José Pio, deixando alerta que existem “lobbies que parecem vespeiros”.

Dos três médicos que exercem no concelho, um irá sair em agosto. “A Dra. Rosa vai sair em agosto, e o Dr. Cabaço está com um problema de saúde grave, mas tem aguentado a extensão de saúde de Belver”, deu conta José Pio, acusando Jorge Rebelo de estar a fazer-se valer desta situação “para se valorizar em termos remuneratórios”.

“Nós vamos pagar-lhe e continuar com o apoio financeiro mensal se cumprir, e faremos isso por outro médico que aqui venha exercer, com uma certeza: é uma ilegalidade. Um funcionário público não pode ser pago «por baixo da mesa»”, frisou, lembrando que este instrumento foi criado como forma de fixar o médico de família Jorge Rebelo da Silva. Por outro lado, a vaga para Gavião no âmbito do recente concurso de colocação de especialistas de medicina geral e familiar voltou a não ter interessados.

A CM Gavião assinou em março um acordo com o médico Jorge Rebelo para exercer funções no Centro de Saúde de Gavião e na extensão de saúde de Comenda. Porém a autarquia está descontente com a postura do clínico e pondera rescindir o acordo por incumprimento do médico. Foto: CMG

A Câmara mostra-se descontente com a prestação de cuidados por parte do médico que entrou em 2021 para reforçar o corpo clínico do Centro de Saúde de Gavião, e que começou por dar consultas na extensão de saúde de Comenda.

O Município de Gavião assinou um acordo com o clínico em março deste ano para atribuir um apoio financeiro mensal para fixação do médico de família, mantendo-o ao serviço, em permanência, no Centro de Saúde de Gavião e na extensão de saúde de Comenda. A autarquia comprometeu-se a pagar anualmente cerca de 11 mil euros, atribuindo um apoio mensal como complemento ao vencimento auferido e pago pela Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano.

Porém, a autarquia critica o facto de o médico não estar a cumprir com o protocolado. “O mês passado recebeu 65 euros, limitou-se a fazer treze horas”, disse José Pio.

Também a vereadora Graciosa Chambel deu conta de que um jovem aluno se sentiu mal na escola, e deslocou-se com a mãe à urgência do centro de saúde local, perto da uma da tarde. “Faltavam vinte minutos para as 13h00, e tinha três pessoas em espera, quando chegou o menino, seria a quarta pessoa. [O médico] não admitiu o menino na urgência e este teve de deslocar-se para atendimento na Ponte de Sor”, contou.

José Pio admitiu que a Câmara Municipal está inclinada “em propor a rescisão” com o médico. “Não está a cumprir minimamente o que acordou connosco. Acordámos que iria fazer atendimento na extensão de saúde de Comenda e que fazia 44 horas, oito horas na Comenda e as outras em atendimento permanente e urgências no Centro de saúde de Gavião. Só vem fazer onze horas…”, lamentou.

Rui Vieira (CDU) frisou que o cenário “está a ser dramático” para as populações de Gavião, Comenda, Margem e Belver, e inclusive citou um exemplo pessoal para dar conta da dificuldade das pessoas residentes em Comenda para pedir exames complementares de diagnóstico urgentes, uma vez que são obrigados a deslocar-se à sede de concelho, a 18 km de distância.

Reunião de executivo municipal em Gavião. Foto: arquivo/mediotejo.net

“É muito complicado. As pessoas fazerem cerca de 40 km e virem à sede de concelho ser atendidas… do mal o menos. Mas chegarem aqui, pagarem táxi, e não estar garantido atendimento…”, lamenta o vereador da CDU.

Quanto ao serviço administrativo e enfermagem na extensão de saúde de Comenda, Rui Vieira referiu que o período afixado de 1h15 para duas aldeias “é muito pouco”.

Também o vereador Vítor Filipe (PSD) falou sobre o tema, entendendo que a solução para este problema da falta de médicos de família depende do poder central e não do poder local, seja por via de aumento de tabelas salariais e criação de mais incentivos, crendo que a autarquia poderá ter “uma palavra decisiva, tentando chegar ao Ministro da Saúde”.

José Pio respondeu que as preces do município já chegaram à tutela, mas que o ministério abriu o concurso para Gavião, com uma vaga, e não concorreu ninguém. “Se não há médicos [de medicina geral e familiar]…”, nota.

“Vamos chegar a uma situação muito complicada assim que chegar o mês de agosto. Se agora já é complicada, vai-se agravar… Continuo a fazer todos os esforços (…) estamos dentro da situação e estamos em contacto permanente com a ULSNA, já escrevemos ao Ministro, já abriu concurso…”, concluiu, indicando que a autarquia está a fazer o possível para encontrar, ou ajudar a encontrar, soluções.

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Formada em Jornalismo, faz da vida uma compilação de pequenos prazeres, onde não falta a escrita, a leitura, a fotografia, a música. Viciada no verbo Ir, nada supera o gozo de partir à descoberta das terras, das gentes, dos trilhos e da natureza... também por isto continua a crer no jornalismo de proximidade. Já esteve mais longe de forrar as paredes de casa com estantes de livros. Não troca a paz da consciência tranquila e a gargalhada dos seus por nada deste mundo.

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