A prestação de cuidados de saúde no concelho continua a gerar preocupação e constrangimentos na população das três freguesias, Constância, Montalvo e Santa Margarida. Duas das três médicas de família encontram-se de baixa médica prolongada, uma enfermeira está em isolamento profilático covid-19 e a redução de recursos humanos está a ter um grande impacto no funcionamento das unidades de saúde, com relatos de dificuldade em marcar consulta durante várias semanas e longas filas de espera para conseguir atendimento no centro de saúde. A Câmara Municipal já alertou a ARSLVT e o ACES Médio Tejo para este problema que necessita de solução célere, mas a CDU crê que deve a autarquia exigir de forma inequívoca e formalmente respostas às entidades competentes, para assegurar a prestação de serviços essenciais e básicos à comunidade.
O tema voltou a ser discutido na passada reunião de Câmara, onde a CDU, na voz da vereadora Júlia Amorim, propôs em declaração exposta na sessão que a autarquia tome posição junto da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) e do ACES Médio Tejo, no sentido de pressionar as entidades para darem resposta às necessidades em termos de prestação de cuidados de saúde no concelho.
Já a 17 de junho, em reunião de Câmara, a CDU alertou para a demora no agendamento de consultas médicas em tempo útil. Acontece que, segundo a oposição, “o problema agudizou-se” com os cuidados de saúde a serem assegurados atualmente por uma médica de família e um prestador de serviços, estando duas médicas de família de baixa prolongada.
“Nesta data podemos observar que os utentes desesperam por uma consulta”, referiu Júlia Amorim, notando que há grandes aglomerados de utentes à porta do Centro de saúde para tentar ter vaga para uma consulta de recurso.
ÁUDIO | Júlia Amorim, vereadora da CDU na Câmara Municipal de Constância
Por outro lado, a CDU alertou que a nova extensão de saúde de Montalvo está “há mais de um mês sem atendimento médico, sem serviços de enfermagem ou atendimento administrativo, isto é, encerrada”, algo que contrapõe a informação veiculada pelo autarca Sérgio Oliveira, que assegurou que a partir do mês de abril passava a haver atendimento naquele local todas as semanas.

A CDU questionou “qual a situação atual a nível de cuidados de saúde no concelho”, se “existem recursos humanos, médicos e de enfermagem, disponíveis em número de horas suficiente para garantir a prestação de cuidados a toda a população residente; se estão a ser garantidos os cuidados essenciais e necessários aos grupos de risco – grávidas, crianças, diabéticos, e pessoas com doença crónica; para quando está planeada a reabertura da extensão de saúde de Montalvo de forma a garantir os cuidados de saúde”.
Por outro lado, pretende saber-se “em situação de ausência do médico de família, qual é a resposta que os utentes têm”, questionando-se se “neste momento os utentes em Constância têm acesso a cuidados de saúde primários, como serviço de prestação de cuidados de proximidade e com qualidade, evitando deslocações desnecessárias”.
A CDU solicitou, por fim, que o presidente da Câmara “interceda junto do ACES Médio Tejo e ARSLVT para que se resolva com urgência o problema e, acima de tudo, se obtenha resposta às questões supramencionadas”.
ÁUDIO | Sérgio Oliveira (PS), presidente da Câmara Municipal de Constância
O presidente da Câmara Municipal de Constância disse estar sensível a estes problemas, referindo comungar da preocupação da vereadora da CDU. Confirmou que o concelho tem três médicas de família, e duas estão de baixa médica prolongada, sendo também motivo pelo qual a extensão de saúde de Montalvo está encerrada, acrescendo o facto de a enfermeira afeta a esta extensão de saúde estar em isolamento, devido à covid-19.
Sérgio Oliveira reforçou ter estado em conversação com o ACES Médio Tejo sobre esta situação, referindo que a perspetiva é que os cuidados de saúde de enfermagem sejam retomados na extensão de saúde de Montalvo em 15 dias.
Quanto à substituição dos médicos que estão de baixa, referiu que não será de fácil resolução, devido ao “esforço no âmbito da vacinação” e ao “período de férias”.

“É um assunto que nos preocupa, que temos acompanhado e tudo temos feito junto das instituições com responsabilidade sobre a saúde, ACES Médio Tejo e ARSLVT, para que nos consigam arranjar soluções, para que as nossas populações fiquem salvaguardadas”, afirmou o edil.
Júlia Amorim reforçou a necessidade de atuação nesta matéria, sob pena de a situação da pandemia não poder “ser resposta para tudo”, tendo dado exemplo de mulher grávida de 6 meses que há uma semana que tenta marcar consulta no centro de saúde, sem ninguém dar encaminhamento ao assunto. “As nossas populações não podem viver assim”, sublinha.
ÁUDIO | Júlia Amorim, vereadora da CDU na Câmara Municipal de Constância
A vereadora da CDU assume que não é a autarquia a ter a responsabilidade sobre a colocação de médicos, mas que têm de ser “interlocutores das preocupações das pessoas e dar-lhes respostas”, defendendo que “as pessoas no terreno têm que organizar os serviços” para que o sistema não prossiga “inoperante”.
“Temos que exigir que alguém diga às pessoas aonde se devem dirigir”, alerta Júlia Amorim, defendendo que é importante afixar respostas para encaminhar os utentes, temendo que existam muitas pessoas sem saber o que fazer em alternativa.
Já Sérgio Oliveira diz que, na sua opinião, se está “a pagar caro” o que foram “soluções e opções erradas no passado”.
ÁUDIO | Sérgio Oliveira (PS), presidente da Câmara Municipal de Constância
O autarca socialista disse até já ter contactado empresas de prestadores de serviços para tentar encontrar um médico de medicina geral e familiar disponível, tendo posto em cima da mesa a hipótese de a Câmara pagar o ordenado em protocolo com a ARSLVT para assegurar os cuidados de saúde, porém nem essa opção se mostrou viável.
“Neste momento nem as empresas de prestadores de serviços conseguem arranjar médicos de família”, lamentou.

Sérgio Oliveira aproveitou a ocasião para assegurar que está salvaguardado o atendimento médico nas duas próximas semanas, quando a única médica de família em funções atualmente entrará de férias.
O autarca compromete-se a continuar a insistir junto das entidades competentes para alcançar soluções, crendo que outras questões estão em jogo, caso do facto de duas médicas de família estarem “à beira da reforma”.
“Temos que encontrar uma solução planeada, com tempo, para depois não acontecer o mesmo que acontece noutros concelhos de norte a sul do país, em que os médicos se reformam e as extensões de saúde fecham. Isso não é sistema. Devemos exigir cada vez mais que a Administração Central resolva esses problemas”, concluiu o autarca constanciense.