A manhã do dia 21 de junho foi diferente para os alunos da turma B do 3º ano de escolaridade do Centro Escolar de Assentiz e Chancelaria, concelho de Torres Novas, onde o destaque foi para o tema das cores e em especial para quem não as consegue interpretar da mesma maneira que a maioria, os daltónicos.
Este foi um encontro realizado no âmbito do projeto “ColorADD Social nas Escolas do Médio Tejo”, o qual a associação ColorADD Social, em parceria com a Comunidade Intermunicipal (CIM) do Médio Tejo, se encontra a desenvolver nas Escolas do Médio Tejo, envolvendo cerca de 2 mil crianças do 3.º ano.
O objetivo é “sensibilizar a sociedade através da comunidade escolar que existem pessoas daltónicas”, até tendo em conta que “as crianças têm a capacidade de influenciar os adultos e de sensibilizá-los para a existência de pessoas que sofrem de daltonismo e que esse facto não deve ser motivo de discriminação”.

Na sessão foi apresentado a ColorADD, uma associação liderada por Miguel Neiva, responsável por ter criado o código das cores, único no mundo. Este código, permite aos daltónicos associar os símbolos às respetivas cores, sendo-lhes deste maneira possível identificar as cores e tomar as devidas decisões.
Segundo o criador do projeto, em declarações ao mediotejo.net, a importância deste código materializa-se “naquilo que são os produtos, serviços, onde a cor efetivamente tem um fator racional de identificação, orientação ou escolha”, disse Miguel Neiva, explicando que o que se pretende é levar este código à sociedade através de dois caminhos paralelos, que no futuro hão de convergir.
O do quotidiano, onde o código está já integrado em manuais escolares, lápis de cor, etiquetas de roupa, linhas de transporte, bandeiras de praias ou embalagens de medicamentos, “tudo onde a cor é um fator racional para a identificação”, explicou Miguel Neiva, relembrando que vivemos num mundo onde 90% da comunicação se faz através da cor. Depois esse caminho é complementado “com aquilo que é a integração e o trazer o código às escolas”.

“Muito mais do que ensinar o código às crianças, fazê-los perceber que existe uma solução integradora, quisemos também trazer a causa. Trazer a causa porque de facto se não cura para o daltonismo, o problema não está no daltónico, está na sociedade, é importante que a sociedade consiga tornar-se sensível a um tema que não é visível, e pelo facto de não ser visível, cria ao daltónico essa série de constrangimentos”, disse.
Após a exposição do projeto, os pequenos alunos foram desafiados a pintarem uns desenhos. Se no início o desafio lhes pareceu fácil, logo viram a sua vida a complicar-se quando lhes foram entregues óculos que simulam a visão de uma pessoa daltónica. Para as ajudar, os lápis de cor tinham os símbolos do código criado por Miguel Neiva.
Esta dinâmica de sensibilização levada até às escolas é também ela complementada com o rastreio precoce feito ao daltonismo, “algo nunca feito a esta escala nem a esta faixa etária, a nível mundial”, explicou ainda o criador do código das cores, referindo que 17% dos daltónicos descobriu que era daltónico depois dos 20 anos de idade e que não há cura para o daltonismo, pelo que é uma limitação vivenciada por algumas pessoas que a sociedade tem de aceitar.

Isilda Nascimento Pereira, diretora do Agrupamento de Escolas Gil Paes, sublinha a importância deste código das cores, a qual não se prende só com a educação visual mas também com história, geografia e demais aprendizagens, questionando-se “até que ponto, de facto não distinguirem as cores está ou não a influenciar a aprendizagem e os resultados”.
“Por isso eu acho que isto tem muito mais importância do que aquela que eu atribuí no momento em que o projeto me foi divulgado por escrito. Saio daqui muito sensibilizada para esta questão e a valorizar muito este trabalho que aqui está. Portanto, vou mesmo promovê-lo, vão-nos disponibilizar recursos e eu vou rentabilizá-los ao máximo no Agrupamento”, afirmou Isilda Pereira.
Também presente na sessão esteve Miguel Pombeiro, secretário executivo da CIMT, que reforçou a ideia de que esta é uma ação complementar aos rastreios ligados à visão e audição que a Comunidade Intermunicipal tem vindo a realizar ao longo de seis anos nos agrupamentos escolares dos municípios da região, naquele que é um “trabalho regular”.

Fazendo menção de que este projeto relacionado com o daltonismo, centrado em crianças do terceiro ano de escolaridade, vai passar por cerca de 80 escolas dos 13 concelho do Médio Tejo e irá abranger cerca de 2 mil crianças, Miguel Pombeiro referiu ao nosso jornal que para além da questão da sensibilização se está também a aproveitar para se realizarem rastreios, até porque um rastreio feito o mais precoce possível “tem consequências também ao nível do próprio sucesso escolar que, de alguma forma, é o objetivo último de todas as ações que desenvolvemos no âmbito do plano estratégico para a educação no Médio Tejo”.
O projeto “ColorADD Social nas Escolas do Médio Tejo” tem como objetivo definido a “sensibilização da comunidade escolar para o daltonismo e suas limitações, pretendendo-se contribuir para a diminuição do insucesso e abandono escolar precoce, do número de crianças com dificuldades de aprendizagem e de relacionamento interpessoal e prevenir comportamentos de exclusão social e de bullying“.